ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO - FEVEREIRO

ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO

"NARRATIVAS LÚDICAS DA INFÂNCIA - A música e o ritmo, O corpo e a dança, A escuta e o brincar"

EM BREVE!!!

EDUCADORES, PAIS, ARTISTAS, ESTUDANTES E TODOS OS INTERESSADOS EM ARTE, EDUCAÇÃO E LUDICIDADE ESTÃO CONVIDADOS!


Abordando a importância do reconhecimento do brincar como linguagem própria e fundamental da criança e meio por excelência para a construção de conhecimentos sobre si, sobre a relação com o outro e as coisas do mundo. Serão apresentadas aos participantes as contribuições da brincadeira para o desenvolvimento integral, bem como questões presentes na sociedade contemporânea que impedem a concretização de uma infância plena e permeada pela ludicidade.

Para mais informações acesse: www.ateliegiramundo.com ou envie uma mensagem para contato@ateliegiramundo.com

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A importância de rolar, pular e dançar

Todos os agitos imagináveis com o corpo são essenciais para interagir com os colegas e aprender a ocupar os espaços



Imagem: Candido Portinari - Meninos Brincando



Os bebês vão para a creche cada vez mais cedo. Geralmente, não falam e passam grande parte do dia olhando as mãos, tentando pegar os pés, sorrindo, chorando, balançando a cabeça... Estão explorando o próprio corpo e se comunicando com quem está por perto. Cabe às escolas de Educação Infantil desenvolvê-los e propor atividades adequadas a isso (com os materiais apropriados). "Pesquisas mostram que as experiências sensoriais e motoras vividas na primeira infância desempenham um papel fundamental na formação do cérebro", diz o psicomotricista André Trindade, especializado em atendimento a bebês. 

Nessa fase, a ação é a principal forma de linguagem. É assim que os pequenos interagem com o meio e aprendem sobre si mesmos, as pessoas que os rodeiam e os lugares que freqüentam. Por isso, não existe hora específica para pôr a turminha para se movimentar. Ao contrário, é preciso fazer isso o tempo todo. Pular, rolar, dar cambalhotas, correr - tudo é fundamental para a meninada se relacionar com os colegas e descobrir o mundo. No banho, por exemplo, bater pernas e mãos na água permite que a criança descubra do que é capaz, além de despertar sensações (o que se chama de consciência corporal). 

Só mais tarde, quando a criança pronuncia as primeiras palavras, percebe que há outros meios de se comunicar. Mas ela não perde o dinamismo e a necessidade de explorar o mundo com o corpo. É por isso que situações de contenção motora, como ficar sentado muito tempo, atrapalham o desenvolvimento. "A Pedagogia tem de ser intencionalmente planejada e contemplar o que é possível e necessário para o grupo", diz Isabel Porto Filgueiras, professora do curso de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. 

As teorias sobre o desenvolvimento motor, em especial as de Jean Piaget, Henri Wallon e David L. Gallahue, explicam por que alguém não consegue fazer determinado movimento. No entanto, não servem para todos os indivíduos, pois não é possível esperar o mesmo de todos. 

Há casos de bebês que se sentam com 5 meses, enquanto outros só vão fazer isso aos 8. Essa diferença é normal e se dá por causa dos diferentes ritmos biológicos. Daí porque, hoje, considera-se melhor pensar nas competências individuais e não na idade.


Pensamento em ação

Piaget criou a expressão construção dos esquemas de ação para batizar a forma como os pequenos aprendem quando se movimentam. Para o pesquisador suíço, desde muito cedo nós, humanos, pensamos antes de agir e, toda vez que enfrentamos um desafio, aplicamos o que já sabemos. Ou seja, quando uma criança sabe andar, mas não saltar, e encontra um obstáculo no caminho (como um cabo de vassoura), ela primeiro tenta pisar sobre ele em vez de passar por cima sem tocá-lo. Provavelmente, isso provocará a perda do equilíbrio e o fim da caminhada. Piaget escreveu que, ao se levantar, será preciso criar um esquema de ação diferente. Ou seja, pela exploração surge outro jeito de vencer cada desafio.

Wallon estudou o movimento como uma forma de linguagem. Sua preocupação era com a expressão, não com a coordenação motora. Segundo ele, o recém-nascido está mais interessado nas relações sociais do que no próprio corpo. "Ele quer estabelecer vínculos para entender seu papel no mundo", explica a professora Isabel Porto Filgueiras. Para isso, o bebê usa o movimento para atrair a atenção. Já Gallahue estuda as possibilidades e limitações nas fases de desenvolvimento motor. Ele descreve cada etapa e como a criança evolui. É por isso que mais importante do que executar uma ação perfeitamente é saber fazê-la de vários jeitos. "É na diversidade que os pequenos começam a aprender sobre o mundo", completa Isabel.



Grandes conquistas

Nas primeiras semanas de vida, a postura do bebê é retraída. Pernas e braços só começam a se expandir por volta do terceiro ou quarto mês. A partir daí, ele passa a ter ações voluntárias, mas ainda dominadas por reflexos. A etapa seguinte é fortalecer a musculatura dorsal e as conquistas viram sentar, se arrastar, engatinhar, ficar em pé e andar. Junto com a locomoção e o equilíbrio vem a exploração voluntária. O pequeno pega um brinquedo, balança, leva à boca e coloca em cima de outro. Pela limitação do campo visual, tato e visão são unidos. Ou seja, para enxergar, ele precisa tocar.


É fundamental variar as posturas: ficar de bruços, de lado e sentado (com ou sem almofadas ou no bebêconforto). Nessa fase, os bebês precisam ser acolhidos, no colo, no berço ou no solo. André Trindade sugere fazer "ninhos" dentro da sala. "Forre o chão com tecidos macios (colcha ou edredom) e monte um canto com muitas almofadas. Isso provoca a sensação de contorno e proporciona o bem-estar."

Com a criança andando, proponha novos desafios para aperfeiçoar a locomoção. Subir e descer escadas, escorregar, girar, rolar e agachar são boas opções para explorar as possibilidades e limitações do corpo (saiba como uma escola de São Paulo faz isso no quadro abaixo). Mais adiante, com a entrada no mundo da fantasia, o ideal é oferecer muitos brinquedos e apresentar atividades que utilizem as linguagens falada e escrita, como as brincadeiras de roda.


Descobertas no parque

Desenvolver a sensação corporal. Esse era o objetivo do trabalho de Sandra Oliveira Augusto Mathias e Alinete Aparecida Lombardi Alves, do CEI Cidade de Genebra, em São Paulo. Professoras do B2 (1 e 2 anos), elas perceberam como as crianças eram fascinadas pelos brinquedos do parque. 

"O encantamento se explica pelo tamanho dos objetos. São bem maiores que os do nosso solário, onde os pequenos estavam acostumados a ficar", lembra Sandra. Mas o sentimento vinha acompanhado de outro: o medo. "Eles temiam a altura do escorregador e a velocidade do gira-gira, mas queriam experimentar", conta Alinete. Auxiliadas por Isabel Porto Filgueiras, as duas apresentaram uma seqüência de atividades à turma: desafios capazes de ajudar a meninada a conhecer melhor o próprio corpo, além de descobrir sensações e movimentos. Girar foi o estímulo inicial, primeiro no gira-gira e depois no próprio eixo. "Às vezes, pegávamos um no colo ou pelos braços para 'voar' com a gente", diz Sandra. 

Depois, elas espalharam colchonetes pelo chão e mostraram como se faz para rolar. Na seqüência, repetiram a ação num plano levemente inclinado, também sobre colchonetes. Quando todos já estavam craques, foram levados a um pequeno barranco dentro da creche. Ali, a brincadeira era descer abraçado a Sandra ou Alinete - e, mais tarde, sozinhos. A última tarefa foi fazer cambalhota. Isabel avalia que os pequenos aprenderam muito mais. "Eles entenderam a se movimentar no tempo e no espaço, pois precisavam combinar os movimentos com os colegas para ninguém se bater nem se machucar", explica. "E também ficaram mais corajosos."

Para crianças que têm algum tipo de deficiência, vale a pena pensar em ações que elas possam realizar e que contribuam para aumentar o repertório motor. "Em alguns momentos, elas fracassarão e, em outros, terão sucesso. Isso faz parte da vida", diz a professora Eliane Mauerberg-de Castro, da Universidade Estadual Paulista, em Rio Claro, no interior paulista. Os cegos não têm referência visual de como o próprio corpo se comporta. Por isso, sempre fale em voz alta o que eles estão fazendo. Os com deficiência mental podem explorar o balanço, a corrida e o salto. Já os surdos têm desenvolvimento motor normal (a dificuldade está apenas na comunicação). Para os com deficiência física, Elaine recomenda elaborar regras "que funcionem como restrição para as demais, como correr de mãos dadas".


Mobilidade é a ordem

Muitos pensam que o movimento na Educação Infantil é sinônimo de aulas de balé, judô e natação. Marcelo Jabu, co-autor dos Parâmetros Curriculares Nacionais na área de Educação Física, diz que "a iniciação precoce em modalidades artísticas e esportivas tem mais a ver com os sonhos dos pais". Segundo ele, para o judô e o balé, é necessária muita contenção muscular, ou seja, essas são atividades que privilegiam a força, não o movimento. A natação requer menos esforço, mas é preciso verificar como é apresentada. "Não é possível conduzir uma aula na piscina da mesma maneira que com adultos numa academia."

Na creche, funciona bem investir na ampliação de repertório. Ensine brincadeiras tradicionais e parlendas, explore mímicas e imitações, monte circuitos com obstáculos e mostre coreografias de cantigas de roda. O trabalho com dança pode até culminar na festa junina ou numa comemoração do Dia das Mães, desde que as propostas façam sentido. "O melhor caminho é apresentar danças que explorem novos gestos e ritmos tanto em grupo como individualmente", afirma Simone Alcântara, formadora de professores na área de movimento do Instituto Avisa Lá, em São Paulo.

Portanto, nada de deixar os bebês no berço. Mais do que colocá-los no chão, é preciso interagir e apontar caminhos. Toda criança pequena precisa de estímulos para se locomover, apoios para se equilibrar e objetos para manipular. Outra prática comum é confinar em solários. Em muitos casos, os espaços ficam no andar de cima da instituição e têm piso cimentado e grades para todos os lados. Levar ao parque é, claro, mais trabalhoso. Mas, se ninguém fizer isso, a turma perde a oportunidade de sentir o que é pisar na grama", diz Simone. Envolva os demais funcionários.


Muita ação no berçário

Na Escola de Educação Infantil Baby Mel, no Recife, a turma de até 1 ano só fica no berço enquanto dorme. "Quando um acorda, é levado imediatamente para a sala de movimento", diz a diretora pedagógica Lídia Loreto. O espaço tem poucos móveis, colchonetes no chão e muitos materiais para chamar a atenção dos pequeninos. 

Os que ainda não conseguem se sentar são colocados de bruços sobre um rolinho na altura do peito ou da barriga pela auxiliar Alexsandra Travassos da Silva, que logo posiciona um brinquedo à frente deles. Depois, ela desliza a criança para a frente e para trás, estimulando-a a pegar o objeto. "Essa ação fortalece a musculatura e estimula o bebê a rastejar para, mais adiante, ter condições de engatinhar", explica a psicomotricista relacional Ana Cristina Serrano Raposo. 

Para cada fase, um desafio. Quem dá pistas de que está pronto para se sentar é apoiado por almofadas, que ajudam a sustentar o tórax. Já os que querem ficar em pé, além da barra fixada na parede, têm acesso a um pequeno cavalete. "Sempre seguro a cintura da criança para auxiliá-la a abaixar e levantar", diz Alexsandra. "Assim, ela fica segura para os primeiros passos."


Espaço e materiais

Do ponto de vista da infra-estrutura, o primeiro item a ser verificado é o piso. Ele não pode ser escorregadio e o ideal é que haja rampas com pouca inclinação para subir e descer engatinhando ou escadas com poucos degraus. Também é fundamental espalhar equipamentos que dêem suporte às crianças, como uma barra na altura das mãos (de preferência, com um grande espelho para que todos possam se reconhecer e testar expressões). "Como estão construindo a identidade, fatalmente vão brincar com a própria imagem", explica Simone Alcântara.


Além de preparar um espaço com diferentes propostas, é preciso acolher. Se o bebê está começando a ficar sentado, grandes almofadas em volta dão suporte a essa postura. Se quer ficar em pé, pufes e caixas de papelão ajudam. É importante verificar se o calçado facilita o caminhar ou se a meia é antiderrapante. Bolas macias de diferentes tamanhos, arcos e argolas estimulam novas ações. Mas cuidado com a adequação dos brinquedos às habilidades dos pequenos. "Um bambolê, por exemplo, é grande para os pequenos. Nesse caso, é melhor confeccionar um com conduíte ou mangueira de acordo com o tamanho médio da turma", explica Isabel Filgueiras.


Brincadeiras de roda

Shirley Souza Cruz, professora do minimaternal (2 anos), e Elisangela Eloy de Souza, responsável pelo 1º estágio (3 anos), do CEI Recanto Infantil Parque Figueira Grande, em São Paulo, perceberam que os pequenos ainda não sabiam formar uma roda. "Quando pedíamos para eles se organizarem, não dava certo", lembra Elisangela. Além disso, a oralidade também precisava ser desenvolvida. Foi assim que elas bolaram o projeto Cante, Brinque e Encante. 


Cada uma em sua sala, as duas leram textos sobre a história das danças regionais e exibiram um vídeo sobre o tema. Depois, apresentaram a música Abre a Roda, Tindolelê. Escreveram a letra numa cartolina e ensinaram a cantar e dançar. Quando todos estavam afiados, foi organizado um encontro para compartilhar o aprendizado e interagir. "Um sempre ensina alguma coisa para o outro", afirma Shirley. 

A atividade começou com um rápido alongamento e desde o início já era possível registrar avanços. "As crianças conseguiam não só ficar em roda como também acompanhar a música, cantando e batendo palmas, formar fila, andar para trás, requebrar e abaixar", conta Elisangela. A empolgação foi tão grande que, no fim, um coro explodiu na sala: "De novo, de novo!"


BIBLIOGRAFIA 



Atividade Física Adaptada, Eliane Mauerberg-de Castro, 595 págs., Ed. Tecmedd 

O Bebê e a Coordenação Motora, Marie-Madeleine Béziers e Yva Hunsinger, 80 págs., Ed. Summus 

O Despertar do Bebê, Janine Lévy, 144 págs., Ed. Martins Fontes




Autora: Cristiane Marangon

Fonte: Revista Nova Escola


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