ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO - FEVEREIRO

ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO

"NARRATIVAS LÚDICAS DA INFÂNCIA - A música e o ritmo, O corpo e a dança, A escuta e o brincar"

EM BREVE!!!

EDUCADORES, PAIS, ARTISTAS, ESTUDANTES E TODOS OS INTERESSADOS EM ARTE, EDUCAÇÃO E LUDICIDADE ESTÃO CONVIDADOS!


Abordando a importância do reconhecimento do brincar como linguagem própria e fundamental da criança e meio por excelência para a construção de conhecimentos sobre si, sobre a relação com o outro e as coisas do mundo. Serão apresentadas aos participantes as contribuições da brincadeira para o desenvolvimento integral, bem como questões presentes na sociedade contemporânea que impedem a concretização de uma infância plena e permeada pela ludicidade.

Para mais informações acesse: www.ateliegiramundo.com ou envie uma mensagem para contato@ateliegiramundo.com

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Brincar é aprender: a brincadeira e a escola

Imagem: E. Rosária Silva





É possível aprender – e ensinar - brincando? Os alunos, enquanto brincam, não perderão tempo, tempo esse que poderia ser empregado na aprendizagem de conteúdos escolares importantes para a obtenção de êxito acadêmico e social no futuro? 

Tais questões intrigam professores, pais e os próprios alunos, que se perguntam sobre a ‘utilidade’ de brincar e despender tempo e lugar na escola para isso. São dúvidas que se revigoram diante da constatação da transformação da infância e dos interesses das crianças contemporâneas. 

Um exemplo dessa transformação da infância encontra-se nos resultados da pesquisa feita em 2011 por um canal de televisão a cabo com programação infantil em três capitais brasileiras com mil crianças entre seis e onze anos de idade, na qual os entrevistados deveriam revelar seu objeto de desejo. Das crianças entrevistadas, 46% apontaram a roupa como presente favorito, ao passo que apenas 33% indicaram os brinquedos. Nem mesmo se somássemos as crianças que na pesquisa escolheram os videogames e jogos eletrônicos (10%) a estas, ou se somássemos os 11% de crianças que desejam guloseimas, os resultados bateriam a preferência por roupas. Sua atividade preferida é ver televisão, seguida, aí sim, por brincar. 

Perplexos, os adultos perguntam: a brincadeira estará morrendo? Por que estas crianças não priorizam o brincar? O que os educadores tem a ver com isto? 

Para responder a essas perguntas outra pesquisa, feita em 2012 com 150 crianças entre cinco e dez anos de idade, alunas de escolas particulares de Porto Alegre, pode dar algumas pistas: ao indagar sobre o que mais gostam de fazer com seus pais, descobriu-se que brincar, praticar esportes, enfim, simplesmente ‘ficar junto’ é o que as crianças querem de seus pais. 

Essas pesquisas mostram que o papel dos adultos diante das crianças é fundamental. 

Continua sendo importante para as crianças, em meio às tantas mutações recentes do universo contemporâneo, a presença de adultos capazes de exercer funções parentais por meio das quais sua inserção cultural e uma herança moral seja garantida. Essas crianças parecem lembrar, com os seus quereres, que o processo de humanização e, por conseguinte, nossa humanidade, depende dos outros. A transmissão e a valorização da brincadeira é uma dessas trilhas que levam o indivíduo à condição de membro de um grupo, gerando laços de pertencimento e compromisso.

Se, de um lado, as novas preocupações e desejos infantis podem ser interpretados como um sinal de alerta sobre como a sociedade de consumo e da imagem atinge as crianças, em que parecer e ter são mais importantes do que ser, por outro lado, observar como as crianças elaboram estas influências ensina muito, inclusive sobre nós, os adultos, e sobre nossa participação na promoção de seu desenvolvimento e sua aprendizagem. O modo e com o quê as crianças brincam – ou desprezam o ato de brincar -, é um meio de apreendermos uma parte importante da relação entre o mundo adulto e o mundo das crianças, levando-nos a refletir sobre o nosso papel, como adultos e educadores, em relação às crianças. 

Desde tempos remotos os brinquedos, jogos e brincadeiras fazem parte do convívio social. No passado, todos, inclusive a própria criança, tinham acesso ao próprio processo de construção do brinquedo. Com a industrialização esta relação se transforma, e o aumento das populações nas cidades, bem como a nova definição do espaço urbano, com suas possibilidades e restrições às manifestações lúdicas, incide sobre a infância. Contudo, como no passado, quando eram os adultos que passavam às crianças objetos antes usados em rituais e cultos (o chocalho e a boneca, por exemplo), reforçando os laços coletivos com a comunidade, os adultos continuam tendo uma participação importante na introdução das crianças no mundo do brinquedo e, por conseguinte, no mundo social. 

Quando nós, adultos, recusamos tempo e espaço para a brincadeira infantil, desqualificando-a, desencorajamos as crianças a brincar. Com isso, impedimos que as crianças disponham de um importante meio tanto de compreender o mundo, a si mesmo e aos outros, quanto de expressar essa compreensão. 

Por outro lado, quando tentamos dar ‘serventia’ à brincadeira, subordinando-a rigidamente ao ensino de conteúdos escolares e conhecimentos gerais, também impedimos as crianças de brincar, pois nessas condições a brincadeira desaparece, já que desaparece a liberdade, a invenção, a incerteza e a imaginação – tudo isso em nome de aprender melhor. 

No entanto, a posição contrária não se resume em deixar brincar, sob o argumento de que a não-participação do adulto na brincadeira infantil produz uma aprendizagem autêntica e, por conseguinte, mais livre. Na verdade, o que vemos freqüentemente nestas situações é a omissão do adulto em relação à sua responsabilidade educativa e o abandono de quem aprende enquanto brinca. 

A posição que efetivamente representa contraponto a estas duas formas que assume o brincar na Educação é paradoxal e pode ser resumida em admitir uma intenção nãocontrolada sobre o processo educativo, isto é, assumir os desejos, objetivos e compromissos do fazer educativo ao mesmo tempo em que se reconhece o papel do inesperado, do imprevisível, do incerto neste processo, o que repercute tanto em quem aprende, quanto em quem ensina. 

Vivenciados na brincadeira, cooperar, competir, ganhar, perder, comandar, subordinar-se, prever, antecipar, colocar-se no lugar do outro, imaginar, planejar e realizar, são aspectos fundamentais à aprendizagem em geral, presentes também na aprendizagem de conteúdos escolares. É por isso que a aprendizagem escolar beneficia-se da brincadeira, e não porque um conteúdo específico do currículo escolar pretendeu ser ensinado por meio de um jogo. 

Assegurar tempo e espaço para brincar através de uma atitude valorizadora e participativa da brincadeira contribui, decisivamente, para o desenvolvimento e a aprendizagem das novas gerações, confirmando que brincar é, sim, aprender.






Tânia Ramos Fortuna - Pedagoga. Especialista em Piaget. Mestre em Psicologia Educacional. Professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Coordenadora geral do Programa de Extensão Universitária “Quem quer brincar?” (www.ufrgs.br/faced/extensao/brincar)

Publicado anteriormente como FORTUNA, Tânia Ramos. Brincar é aprender: a brincadeira e a escola.


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