ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO - FEVEREIRO

ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO

"NARRATIVAS LÚDICAS DA INFÂNCIA - A música e o ritmo, O corpo e a dança, A escuta e o brincar"

EM BREVE!!!

EDUCADORES, PAIS, ARTISTAS, ESTUDANTES E TODOS OS INTERESSADOS EM ARTE, EDUCAÇÃO E LUDICIDADE ESTÃO CONVIDADOS!


Abordando a importância do reconhecimento do brincar como linguagem própria e fundamental da criança e meio por excelência para a construção de conhecimentos sobre si, sobre a relação com o outro e as coisas do mundo. Serão apresentadas aos participantes as contribuições da brincadeira para o desenvolvimento integral, bem como questões presentes na sociedade contemporânea que impedem a concretização de uma infância plena e permeada pela ludicidade.

Para mais informações acesse: www.ateliegiramundo.com ou envie uma mensagem para contato@ateliegiramundo.com

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O paradigma holístico em educação: uma utopia possível


Imagem: Internet




É consenso falarmos na crise porque passa a educação hoje. Como não poderia deixar de ser , a educação reflete a sociedade em que se insere e, este modelo de sociedade está agonizando, explorou ao máximo suas potencialidades e já não consegue responder satisfatoriamente em nenhum aspecto, nem culturalmente, economicamente e menos ainda socialmente.

A mesma racionalidade humana capaz de criar altas tecnologias, que dominam e transformam a natureza, e concebeu o modelo econômico-social (capitalismo) que corroborou essa criação, depara-se agora com as deformações causadas por esse modelo: a exaustão da natureza pela exploração predatória, a fome, a miséria, a exclusão social daqueles que, sem acesso ao conhecimento, vêem-se à margem do sistema.  

  Estes últimos aumentam, consideravelmente a cada dia, pois o individualismo e a competitividade, características do modelo econômico-social implantado pelo cientificismo tecnológico, condicionam o acesso e a permanência no sistema àqueles que têm estrutura econômica para "comprar" o conhecimento necessário.

E o conhecimento tornou-se artigo caro: são caros os livros, os cursos, a tecnologia (computadores, acesso à Internet, etc...).... Custa caro uma boa formação continuada (livros, xerox, passagens.....), condição da competência moderna exigida pelo novo paradigma produtivo a todos os profissionais, especialmente aos professores, cujas ferramentas de trabalho são o conhecimento, a informação e a produção de saberes.

Há, evidentemente, uma crise contextual das instituições, da economia, da política, dos governos, da sociedade, do sistema como um todo. A crise está na própria raiz do pensamento científico ocidental(racionalismo/mecanicista/reducionista) que vê o mundo como uma grande máquina, e os princípios que alimentam suas engrenagens, segundo TOFFLER (1980: 59), são: especialização, concentração, centralização, maximização, sincronização e padronização.

Este paradigma científico impregnou todo o modo de pensamento, a produção de conhecimento e permeou as regras sob as quais se constituiu a sociedade moderna.

O princípio da especialização levou à fragmentação, à departamentalização, ao modelo de fábrica; a concentração aparece na distribuição dos espaços comuns como as indústrias (em parques industriais), o comércio (centros comerciais), o estudo, o lazer, os deficientes, os superdotados..... (CARDOSO, 1995).

É a racionalização dos espaços, afastando-se da biodiversidade da própria natureza, em suas múltiplas manifestações; a concentração de renda reflete ainda, no âmbito político-econômico, o poder sobre a máquina social e a centralização administrativa (mesmo nos sistemas políticos considerados democráticos, a burocracia e as centrais de informações garantem a centralização das decisões); a maximização traz, no âmbito social, a aversão ao pequeno (as marcas visuais do poder tecnológico são os arranha-céus, os complexos industriais, os shopping centers, etc....); a padronização das coisas, desde produtos até as formas de comunicação, submete valores como individualidade e liberdade (quem não se comporta segundo o padrão passa a pertencer ao grupo das minorias socialmente discriminadas).

      Todo o processo formativo, inclusive o de professores, não escapou a esse modelo de racionalidade científica.

Segundo CARDOSO (1995: 30):

A partir do método analítico cartesiano, não somente o saber foi fragmentado em disciplinas estanques, como também o próprio trabalho se tornou cada vez mais especializado através dos departamentos, divisões, seções numa imensa linha de montagem. Cada um de nós, burocrática e roboticamente, se restringe a uma tarefa particularizada sem consciência global do produto realizado.

A contemporaneidade traz para a educação muitos desafios: uma aprendizagem que seja, ao mesmo tempo, produtiva e problematizadora, incentivadora da autonomia, do trabalho em parceria, da permanente construção do conhecimento ao longo da vida, refletindo uma formação continuada comprometida, não apenas com as novas exigências do mercado de trabalho (multihabilidades, cooperação, domínio da tecnologia, criatividade na produção, liderança, etc...) dinamizado pela informatização dos postos de serviços; mas, e principalmente, com a promoção do ser humano, enquanto sujeito, que aprende e que constrói-se permanentemente, e dessa interface, mediado pela opção ética, pretende a diferenciação do indivíduo na busca de uma educação que encoraje um ambiente transformativo, crítico e formador de consciências.

Uma educação que promova as múltiplas potencialidades humanas, com base em pressupostos e princípios que compreendam a relação indivíduo/cosmo estando em constante permuta e transformação, colocando os seres humanos e, consequentemente os professores, a lidar com complexas questões do retorno ao universal, à totalidade, a uma nova abordagem em relação ao planeta Terra, à natureza, à comunidade humana, ao desenvolvimento econômico sustentável, à unidade das ciências, ao caráter interdisciplinar (transdisciplinar) da pesquisa e dos estudos recentes, à construção de um conhecimento que requer um tratamento holístico, e que parece uma grande utopia para muitas pessoas hoje.

Concretamente, o princípio da viabilidade do caminho a percorrer começa pelo entendimento de um ser humano integral, consciente, que se movimenta sendo no mundo, e a partir das interconexões sistêmicas que empreende consigo e com o outro, interage e transforma, transformando a realidade.

Esta nova visão de homem será, portanto, a de um indivíduo singular que se auto-constrói permanentemente, que sente, pensa e age, e que das suas mediações coletivas construirá as possibilidades de uma vida melhor, passando por opções éticas e por valores humanizadores.

      As crises, quando ocorrem, geram um caos, geram rupturas, mas também oportunizam o momento do salto para a criação de novas oportunidades, novos paradigmas, provocando um novo modo de ver a realidade e uma nova concepção do que seja a própria realidade, ao que CAPRA (1988) chama "uma nova visão da realidade".

Pensar numa mudança paradigmática em educação é reconhecer a crise porque passa a mesma, é reconhecer a falência da visão cartesiana/newtoniana de mundo e, portanto, desse paradigma de racionalidade mecanicista/reducionista, pilar sobre o qual foi construído o conhecimento, o pensamento e a cultura ocidentais.

As dificuldades e resistências neste momento de transição estão postas nas condições próprias do sistema: a lógica do mercado, concentrando renda nas mãos de poucos, causando miséria; a exploração gananciosa dos recursos naturais, causando a exaustão da natureza; as falácias políticas, com suas promessas vazias; o avanço tecnológico sem ética, à ciência tudo é permitido, mesmo destruindo os povos e seus patrimônios culturais; o poder cristalizado do acesso ao conhecimento para uns poucos, enquanto a maioria vive na ignorância; a opressão e violação dos direitos humanos básicos.

Nestas condições falar de retorno à essencialidade e existencialidade do ser humano, de consciência da integralidade do Ser, espiritualidade cósmico-universal, consciência ecológica, desenvolvimento econômico sustentável, paz no mundo, em cada pessoa (paz interior), entre os povos (paz social), educação holística (integração do ser humano consigo e com o outro), parece uma utopia sem precedentes, discurso esotérico, fantasias de poetas ou de loucos.

Porém, caminhando no sentido inverso do instituído, muitos pensadores têm vislumbrado novas possibilidades, uma nova forma de pensar e fazer ciência começa a se delinear, a partir das descobertas da Física Moderna (teoria quântica e da relatividade), e da ousadia de alguns cientistas em romper com os modelos vigentes, pesquisando, interdisciplinarmente, os fundamentos para essa nova visão de mundo.

O paradigma holístico surgiu então de uma série de rupturas, de protestos contra o modelo da modernidade, e pode ser associado ao ativismo social, a exemplo de movimentos como: o ecológico, o pacifista, o feminista, a anti-racismo, pelos direitos humanos, o estudantil, o movimento hippie, o sindicalista, etc... todos contra uma racionalidade instrumental exacerbada, a favor da busca de valores universais, transcendentais, ontológicos do Ser.

A aproximação dos pontos de vista do Yoga Tântrico, Taoísmo, Zen Budismo e outros conhecimentos da tradição oriental com os da Física Moderna permite novas formas de compreender e construir conhecimento, unindo ocidente e oriente e permite aos pensadores holísticos dizerem que "tudo na natureza, mesmo a matéria densa é, na realidade, vibração energética". (WEIL, 1997: 31).

Os conceitos de padrões energéticos que fluem no universo, entre os seres vivos e entre estes e o planeta, interligando-os, porque oriundos da mesma fonte - a Energia Cósmica Universal - que une, que tudo cria e recria, em ciclos, são ondas de probabilidades, como na física quântica: as partículas são ondas de probabilidades. Nada é absoluto.

A teoria quântica revela uma unidade básica no universo, daí a sua associação com a filosofia esotérica oriental, que já concebia essa mesma unidade e "energia" integrativa.

Esse princípio de integração, e ao mesmo tempo de impermanência, de união dos opostos, construção/desconstrução, nascimento/morte, luz/treva, dia/noite, positivo/negativo, Yang/Yin, em constante movimento dialético é o TAO.

O TAO é o caminho para onde convergem e interagem os opostos, harmonizando-se no Absoluto, ou seja, da integração do ser em todas as suas dimensões emerge a totalidade/unicidade.

Para CAPRA (1988: 188) "a consciência ecológica profunda é a percepção intuitiva da unicidade de toda a vida, da interdependência de suas miríades de manifestações e de seus ciclos de mudança e transformação".

Essa mentalidade emergente, chamada holística ou ecologia profunda, é uma postura crítica diante do modelo atual de civilização, que está em crise.
A abordagem holística pretende a superação do racionalismo reducionista, através de um diálogo profundo entre a ciência e outras formas de apreensão da realidade.

Trata-se de uma redefinição ética nas prioridades da ciência e da tecnologia, buscando um desenvolvimento que respeite a comunidade humana enquanto espécie. A sobrevivência resultará da emergência de valores qualitativos como substrato, em oposição aos valores quantitativos, competitivos e destrutivos que existem hoje.

Desenvolver as potencialidades do ser humano, estimulando-o a aprender a aprender, buscar a sua integração total, unificando razão, sensação, sentimento e intuição (lado esquerdo e direito do cérebro), despertar uma consciência que transcenda ao eu individual para o eu transpessoal (espiritualidade cósmica: pessoal, comunitária, social, planetária), num compromisso ético de respeito à diversidade, de diálogo com as diferenças, buscando o consenso democrático, é o grande propósito da educação holística.

Em educação, o paradigma holístico pressupõe integrar no homem o que foi fragmentado, ou seja, unificar razão, emoção, cognição, intuição, corpo, mente e espírito (intersubjetividade), tornando-se um modelo abrangente de ser-na, pensar-sobre e viver a realidade.

A abordagem holística em educação aparece em diversas pedagogias que propuseram, cada uma a seu modo, uma educação integral da pessoa, seu diferencial está na concepção de consciência ecológica profunda, que está no âmbito da ética e da espiritualidade.

Apesar da conotação espiritual na teoria holística, esta não está desvinculada do pensamento crítico e da ação social, apenas acrescenta a sabedoria como mediadora das ações práticas, onde o tributo à não-violência, seja simbólica ou física, é fundamental.

Por isso, a visão holística busca uma educação para a paz, considerando que paz, nesta abordagem, é sinônimo de ecologia profunda, e requer que superemos o modelo social e econômico vigente pela assunção de valores como o respeito à vida, cooperatividade social, harmonia com a natureza, eqüidade, compaixão, amor, alegria, sabedoria pessoal, cultura social fundada na verdade, na justiça, na beleza e na solidariedade. Não podemos ser apenas discurso, temos que incorporá-lo na prática sendo o próprio exemplo.

A educação holística não invalida nenhum conhecimento, respeita a diversidade cultural, é multicultural em sua interdisciplinaridade, busca o diálogo com todas as culturas produzidas pela humanidade (ocidental e oriental), ao contrário do paradigma moderno para quem a cultura oriental sempre foi considerada inferior.

Na visão holística o educador é um mediador, aprende com o aluno, e o estimula através do próprio exemplo, com práticas coerentes, atua a partir da totalidade, do encontro com o educando, deve possuir, portanto, algumas características: inclusividade (nada é insignificante), espaço interior (meditativo, reflexivo, deve livrar-se do excesso, das verdades absolutas, esvaziar-se significa caminhar livremente, estar aberto para a vida), flexibilidade, plena atenção, humor, talento, paciência, humildade, disponibilidade, responsabilidade, compromisso, respeito.

Todas as mudanças que a sociedade contemporânea está operando na produção, na organização e divisão do trabalho, demanda uma nova característica dos trabalhadores, com qualidades já anteriormente citadas e que são inerentes em um ser humano inteiro, integrado, livre, auto-realizado, comprometido, criativo, feliz, autônomo, crítico, reflexivo e decidido. Nenhuma delas combina com a eficiente frieza burocrática que mata a criatividade e a liberdade; com a robotização que liqüida com a auto-realização, a autonomia, a reflexividade; com a fragmentação que compartimenta, descompromete, bitola, aliena e torna fácil a manipulação dos sujeitos.

O paradoxo é que o mercado precisa de trabalhadores com qualidades que remetem às mais profundas necessidades do ser humano, enquanto ser, e que são intrínsecas à qualidade de vida e à auto-realização das pessoas. Promover este resgate é papel da educação.

O indivíduo de posse do conhecimento não vai poder continuar se submetendo ou sendo submetido à lógica insana da economia globalizante, a menos que faça uma opção clara pelo Ter em vez do Ser.

O Ter que se fala aqui não é aquele inerente ao Ser, que supre suas necessidades básicas, que possibilita o conforto essencial, afinal todos precisam de dinheiro para comer, morar, vestir, estudar, para o lazer; que possam ter sua casa própria, seu carro, roupas, comida na mesa, que possam passear, ter algum conforto material não é o problema.

O problema do Ter aqui referido é aquele que concentra excesso de renda nas mãos de poucos (multinacionais que exploram nossos recursos e remetem seus lucros para o exterior sem pagar impostos), que explora, que submete, que coage, que exclui, que depreda por ganância e ambição.

Muitos aceitam as regras deste jogo, com vistas a serem aceitos e fazerem parte dos que estão no time do Ter, não importando por cima de quantos terão de passar para chegar lá.

Neste contexto, a quem a educação está servindo? Nos parece que nos moldes atuais, muito mais à lógica do Ter do que à do Ser, porque exclui, aliena, fragmenta, em vez de integrar, de autonomizar, de incluir.

O conhecimento é uma forma de poder, manipulá-lo é decidir quais rumos queremos tomar, e sem ética, como este vem sendo manipulado, o conhecimento (capital cultural) - a exemplo do dinheiro - fica concentrado nas mãos de poucos.

Uma educação para Todos, e cremos que assim deva ser, além de instrumentalizar o homem para o trabalho - domínio do conhecimento sistematizado e das atuais tecnologias, como a informática, a Internet e outras informações, que devem ser oportunizadas, desde que resguardada sua leitura crítica - deve promovê-lo, enquanto ser, ao patamar da dignidade, do acesso à cultura, da qualidade de vida, de valores humanizadores para a sua sobrevivência, enquanto espécie, e da sobrevivência do planeta, enquanto ser integrante do universo, que nos hospeda e no qual vivemos.

Qualidade é intrinsecamente humana, pressupõe felicidade, alegria, equilíbrio, sabedoria, politicidade e intersubjetividade.

Ter qualidade de vida é viver bem em todos os aspectos, ter qualidade educacional é estar aberto, aprendendo, pesquisando, fluindo, é estar inteiro naquilo que se faz, por prazer. É' propiciar, pelo conhecimento, a autonomia e a emancipação do cidadão.

As universidades e, consequentemente, as escolas nunca foram tão cobradas como agora. A maneira como o professor é formado espelha-se na sua prática, e as práticas são dicotomizadas, o discurso não combina com a ação.

Uma avalanche de informações e transformações (nem todas para melhor) bombardeiam, diariamente, nossos sentidos: vemos, ouvimos, lemos, sentimos o descontrole e o caos e, tanto a escola quanto a universidade parecem imunes a esse destempero, não reagem, não mudam, estagnaram.

Outro paradoxo são as relações que se observa no interior das universidades e das escolas: o discurso é o da democratização, da descentralização do poder, da socialização do conhecimento, mas a prática é pela via oposta.

As relações internas não são democráticas (o professor é o dono da verdade e não pode ser contestado, o aluno é o recipiente passivo do repasse e acúmulo de conteúdos fragmentados), o poder é verticalizado (nas universidades a compartimentalização se dá via centros, departamentos, etc...; na escola a direção ainda tem a última palavra a despeito da maioria), o conhecimento não é socializado, na medida que está concentrado nas mãos de poucos. Haja visto a dificuldade de acesso aos cursos de formação continuada, ao "stricto sensu", que exigem a aprovação de um projeto de pesquisa antecipado, o aceite prévio de um professor orientador, a seleção em entrevista oral e/ou por escrito, enfim uma série de normas que para quem não conhece o "sistema", a exclusão é o mais óbvio.

Também a aquisição de material (livros, computador, Internet) quanto a participação em palestras e seminários ficam inviabilizadas, devido a baixa remuneração dos professores assim como às condições financeiras precárias da maioria dos alunos.

Todas essas mazelas nos atingem diretamente, quando é cobrado de nós, professores do ensino básico, um modelo educativo para o qual não fomos preparados, e também às universidades por continuarem adormecidas, sem promoverem mudanças significativas nos currículos de seus cursos de licenciaturas.
Isso reflete na falta de um projeto político-pedagógico para as licenciaturas, que se comprometa em formar, inicialmente e qualificar, qualitativamente, os futuros docentes e os em exercício, que necessitam de programas relevantes de formação continuada. Isso valoriza o professor, mas não é tudo, torna-se necessário continuar lutando por salários condizentes que o dignifiquem.

Não há uma consciência ecológica profunda (das instituições e dos formadores de professores) que contemple a formação do ser humano integral, integrado no seu tempo histórico, competente e consciente de suas possibilidades para intervir, transformando a sociedade, valorativa e eticamente.

Concluindo, cabe dizer que o paradigma holístico não é uma receita pronta e acabada ou a solução perfeita, ele traz em si respostas e interrogações, porém como é aberto e inconcluso, permite desconstruções/reconstruções permanentes, até porque não é uma verdade absoluta (ele próprio critica as verdades absolutas e aposta na impermanência), é apontado como um caminho a percorrer. É' uma questão de opção.

Implicar-se, eticamente, com a causa da espiritualidade cósmica parece sacrilégio num mundo materialista ao extremo. Afirmar que a humanidade que somente materializou-se precisa, em sentido inverso, espiritualizar-se parece utopia.

Mas, se entendermos esse espiritualizar-se no sentido de optarmos por uma consciência ecológica profunda que se percebe parte do todo e traz o todo dentro de si, facilita nossa compreensão do outro (outros seres), então o que fizermos ao outro estaremos fazendo a nós mesmos. Isso nos obriga escolhas responsáveis e coerentes.

No momento que aflora em nós essa consciência cósmica, nos implicamos em práticas éticas pela sustentabilidade da vida na comunidade humana (sua cultura e o conhecimento produzido) e planetária, não aceitando nem concordando com nada que ponha em risco o ecossistema, principalmente contra a lógica do lucro fácil e excessivo.

Pensamos ser o paradigma holístico, por sua essência interdisciplinar, sua visão de homem, de mundo e de sociedade, capaz de fazer frente à dicotomização entre o discurso e a prática exercida e, de ressignificar o modelo de formação em proveito do ser humano potencialmente integral, em vez do cindido pela fragmentação, incapacitado de Ser, excluído de si e da sociedade, porque não percebe que a separatividade (fragmentação) é ilusória e que o caminho do Ser é o TAO.

Neste momento histórico de incertezas no futuro, do caos da transição, é mais cômodo rejeitar o novo, o inusitado, àquilo que é utópico, na falsa ilusão da segurança do instituído. Porém, nada permanece inalterado, sem modificações, este é o princípio fundamental da impermanência do todo, da inconclusão dialética.

Parafraseando Clodoaldo M. Cardoso: o paradigma holístico não traz certezas ou segurança, reafirma o mistério da vida e do Ser, contudo reafirma a potencialidade criativa do homem em construir um novo caminho na medida que se caminha por ele. Exigência primeira: aprender a entoar a canção da inteireza pessoal.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS




CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. São Paulo: Cultrix, 1983.

______. Sabedoria Incomum. São Paulo: Cultrix, 1988.

______. A Teia da Vida. São Paulo: Cultrix, 1996.

CARDOSO, Clodoaldo M. A Canção da Inteireza: visão holística da educação. São Paulo: Summus, 1995.

TOFFLER, Alvin. A Terceira Onda. 6ed. Rio de Janeiro: Record, 1980.

WEIL, Pierre. A arte de viver em paz: por uma nova consciência, por uma nova educação. São Paulo: Gente, 1993.

______. A Consciência Cósmica: introdução à psicologia transpessoal. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.








Eunice Pereira Azenha e Lorena I. P. Marquezan

Este artigo é um excerto da Monografia de Especialização apresentada ao Curso de Pós-Graduação "Lato Sensu" da UFSM - Áreas da Administração/Supervisão Escolar e Orientação Educacional e trata dos pressupostos e propósitos de uma educação holística como alternativa para a qualidade da formação de professores, com todas a potencialidades trabalhadas e desenvolvidas para poder enfrentar a complexa tarefa de educar outros sujeitos, numa sociedade em crescente transformação e num mercado de trabalho em constante mutação e complexidade, marcas da sociedade contemporânea.

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