ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO - FEVEREIRO

ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO

"NARRATIVAS LÚDICAS DA INFÂNCIA - A música e o ritmo, O corpo e a dança, A escuta e o brincar"

EM BREVE!!!

EDUCADORES, PAIS, ARTISTAS, ESTUDANTES E TODOS OS INTERESSADOS EM ARTE, EDUCAÇÃO E LUDICIDADE ESTÃO CONVIDADOS!


Abordando a importância do reconhecimento do brincar como linguagem própria e fundamental da criança e meio por excelência para a construção de conhecimentos sobre si, sobre a relação com o outro e as coisas do mundo. Serão apresentadas aos participantes as contribuições da brincadeira para o desenvolvimento integral, bem como questões presentes na sociedade contemporânea que impedem a concretização de uma infância plena e permeada pela ludicidade.

Para mais informações acesse: www.ateliegiramundo.com ou envie uma mensagem para contato@ateliegiramundo.com

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Gesto e identidade - o corpo na infância


Imagem: Cândido Portinari - Meninos Brincando



Tema central em meu trabalho e de minhas pesquisas nos últimos 20 anos como psicólogo, psicomotricista e professor, o corpo e a infância podem ser observados a partir de diversos aspectos: a postura, o crescimento, a expressão, a autonomia, a coordenação motora, a relação com o mundo, a auto-estima e a construção da identidade. Enfim, muitos olhares podem ser nosso ponto de partida, pois tudo está interligado.

Começarei por aquilo que creio comunicar-se com todos estes aspectos: o desenvolvimento motor.

Sabemos que desde cedo o corpo se transforma, alcançando etapas de autonomia: rolar, sentar, sustentar a cabeça, engatinhar e andar. Depois correr, jogar, desenvolver habilidades motoras participando esportes. Como podemos facilitar e estimular cada uma destas etapas? Quantas destas aquisições contribuem para a formação do indivíduo e de sua personalidade?

Uma boa educação corporal deve levar em conta os aspectos qualitativos da experiência motora. O desenvolvimento motor se dá na relação do nosso corpo com o espaço. Para que ocorra de maneira saudável, precisamos em primeiro lugar de um ambiente que favoreça a exploração e o movimento.

Para o recém nascido, o espaço favorável ao desenvolvimento motor é o colo da mãe. É neste lugar que ele vai se experimentar. Seus primeiros movimentos serão involuntários, porém muito ricos em termos de informações sobre o ambiente e sobre si mesmo.

Seu corpo estará enrolado e próximo ao corpo de sua mãe. Todos os seus sentidos trabalharão para que ele possa formar uma imagem do que está acontecendo.

Os sons vindos do corpo da mãe, seu batimento cardíaco, sua voz, os cheiros, a temperatura, as vibrações, as pressões sentidas pelo toque que recebe e pela forma como é pego, serão associados aos seus movimentos e à sua percepção visual. 

Inicialmente, a amplitude do espaço que ele pode perceber está muito próxima do seu corpo, do rosto e do colo da mãe.

Poderíamos imaginar um espaço circular no qual a criança e a mãe estão inseridas. Dentro deste círculo a criança mexe seus braços e pernas em todas as direções. Portanto a imagem que ela forma não é a do círculo em um único plano e sim a da esfera.

A criança sente que ela e a mãe compartilham um espaço esférico.

É também o espaço da ‘RELAÇÃO’ sem a qual nenhum tipo de desenvolvimento saudável pode ocorrer.

É importante dizer que as situações fora do colo devem seguir estes princípios esféricos. O berço, por exemplo, deve trazer a lembrança da sensação do colo. Não pode ser grande. A criança precisa sentir seu contorno e isto pode ser facilmente resolvido com almofadas ou travesseiros (de preferência planos e fixos) que podem ser retirados à medida que a criança cresce.

O principio a ser seguido é o do contorno e do reagrupamento. É importantíssimo agrupar mãos e pés em torno do centro representado pelo umbigo. Uma criança esparramada, com braços e pernas completamente soltos e largados terá maior dificuldade em perceber a unidade de seu corpo.

Alguns trabalhos têm sido feitos com bebês em incubadoras, onde seus corpos são reagrupados pelo toque humano e a resposta de sobrevivência é surpreendente.

Temos, portanto, os elementos de base do desenvolvimento motor: espaço esférico, reagrupamento, a relação, o toque e o movimento.

Ao longo da infância e da adolescência haverá uma transformação destes elementos, mas eles permanecerão constitucionais.

O espaço esférico, por exemplo. Inicialmente formando uma pequena esfera relacional, vai se ampliando. A criança percebe um espaço maior: seu berço, seu quarto. Além disto, percebe objetos: a bola, os brinquedos, o próprio berço, a textura das coisas e uma infinidade de informações sobre o mundo, diferentes daquelas que ela obtém na relação com sua mãe.

Seu corpo torna-se cada vez mais capaz de explorar o ambiente. Percebe os planos, os volumes, a profundidade, os pontos, as curvas e as retas. Percebe também o tempo: o tempo de ir e o de voltar. Toda uma nova relação conceitual com o mundo se estabelece e a criança começa a se interessar por tudo aquilo que está fora do pequeno círculo concêntrico em torno do seu umbigo. Lança-se na direção do objeto e do espaço esticando seus membros, tentando alcançar novos limites. Seu corpo se desenrola em um movimento de expansão. 

Em muitas palestras e aulas tenho procurado evidenciar estes dois movimentos posturais de concentração e enrolamento e de expansão e abertura. São expressões corporais que se alternam continuamente em nossas vidas. É este ritmo alternado que parece equilibrar nossa vida psíquica e física.

Tenho também insistido em que estas expressões representam estados interiores. Quando a criança parte para um movimento de expansão, não é só seu corpo que assume esta forma, mas ela se descentra no nível psíquico e emocional. O mesmo acontece quando depois de uma intensa exploração externa ela retorna buscando se aninhar em nosso colo. O enrolamento corporal também corresponderá a um estado de concentração, descanso, digestão de tudo o que foi assimilado do mundo de fora.

Um exemplo que eu gosto de dar é o do “recreio”, onde a criança já em idade escolar permanece por 20 ou 30 minutos em um estado de expansão, correndo, brincando, jogando e quando volta à sala de aula é convidada a se concentrar imediatamente. Será que não poderíamos facilitar esta transição com a ajuda de exercícios corporais? 

Parece claro, para mim, que muitos dos problemas de concentração e atenção que sofrem nossas crianças podem ter como origem esta falta de ritmo e alternâncias.

A dança tem sido um instrumento muito importante em meu trabalho no sentido de restabelecer este ritmo.

Não se trata da dança profissional, com objetivos estéticos e artísticos e sim da dança folclórica, da movimentação ritmada do brincar com o corpo e com a música. 

A dança de roda é a minha preferida pois ela trabalha em um novo estágio a idéia do espaço esférico.

Imaginem que aquele círculo que inicialmente ligava a mãe e o bebê foi se ampliando e ganhou novos limites, incluiu as outras pessoas, os objetos e o mundo e chegou na idéia de um grupo. “O grupo do qual eu faço parte”. Seja família, amigos, etc. É a esfera que se ampliou para um nível simbólico e a dança de roda é a expressão corporal deste conceito, deste estado interior que possibilita identificar-me fazendo parte de uma determinada associação humana. É um poderoso instrumento de constituição de grupo e reúne os tais elementos de base para o desenvolvimento motor: o espaço esférico, o reagrupamento das partes do corpo em um todo coordenado, o movimento e o ritmo, o toque (as mãos em contato) e a relação com os outros e com um objetivo comum que nos relembra nossa humanidade.

Porém, nem sempre conseguimos este reagrupamento harmônico com nossas crianças.

Em grupos caóticos tenho me utilizado de outro elemento poderoso no sentido do reagrupamento: o objeto.

Um simples pano, uma colcha de casal, um edredon podem ter um efeito imediato. Convidamos às crianças a segurarem as beiradas do pano e então a mágica se faz, o círculo está pronto. Aí brincamos de rodar para um lado, rodar para o outro, aproximar-se do centro ou distanciar-se, sentindo a tensão do tecido sob as mãos. Depois agitamos como se o pano fosse um mar revolto, acalmamos o mar e com isso acalmamos os movimentos da criança. Só depois de ter o elemento concreto vivido pela criança é que partimos para a roda de mãos dadas, a ciranda e a música.

Caros amigos, é uma pena que estamos chegando ao fim do espaço reservado para este texto. Guardo com apreço as lembranças do nosso encontro no Colégio Notre Dame. Pareceu-me bastante rico. Poderia continuar discorrendo sobre vários temas abordados naquele encontro, mas acredito que pude recuperar com palavras escritas um pouco do que falamos. No mais desejo a todos muito entusiasmo na lida com as crianças. É disto que elas precisam. Espero também que o corpo esteja sempre presente e vibrante na vida de vocês!




Sugestões Bibliográficas

Béziers , Marie-Madeleine e Hunsinger, Yva – “O Bebê e a Coordenação Motora” – Summus Ed.


Denys-Struyf, Godelieve – “Cadeias Musculares e Articulares” – Summus Ed.
Piret, S. e Béziers, M.M. – “A Coordenação Motora” – Summus Ed.


Scoz, Beatriz – “Por uma Educação com Alma” – Ed. Vozes.





André Trindade


Fonte: Aliança pela Infância

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