ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO - FEVEREIRO

ENCONTROS DE ARTE EDUCAÇÃO

"NARRATIVAS LÚDICAS DA INFÂNCIA - A música e o ritmo, O corpo e a dança, A escuta e o brincar"

EM BREVE!!!

EDUCADORES, PAIS, ARTISTAS, ESTUDANTES E TODOS OS INTERESSADOS EM ARTE, EDUCAÇÃO E LUDICIDADE ESTÃO CONVIDADOS!


Abordando a importância do reconhecimento do brincar como linguagem própria e fundamental da criança e meio por excelência para a construção de conhecimentos sobre si, sobre a relação com o outro e as coisas do mundo. Serão apresentadas aos participantes as contribuições da brincadeira para o desenvolvimento integral, bem como questões presentes na sociedade contemporânea que impedem a concretização de uma infância plena e permeada pela ludicidade.

Para mais informações acesse: www.ateliegiramundo.com ou envie uma mensagem para contato@ateliegiramundo.com

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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A importância da leitura infantil para o desenvolvimento da criança

Imagem: Hellen Cann





“O desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que principia no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora.”
Bamberger


Reconhecer a importância da literatura infantil e incentivar a formação do hábito de leitura na idade em que todos os hábitos se formam, isto é, na infância, é o que este artigo vem propor. Neste sentido, a literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa. O presente estudo inicia com um breve histórico da literatura infantil, apresenta conceitos de linguagem e leitura, enfoca a importância de ouvir histórias e do contato da criança desde cedo com o livro e finalmente esboça algumas estratégias para desenvolver o hábito de ler.



O estudo realizado tem por objetivo, verificar a contribuição da literatura infantil no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança. Ao longo dos anos, a educação preocupa-se em contribuir para a formação de um indivíduo crítico, responsável e atuante na sociedade. Isso porque se vive em uma sociedade onde as trocas sociais acontecem rapidamente, seja através da leitura, da escrita, da linguagem oral ou visual.
Diante disso, a escola busca conhecer e desenvolver na criança as competências da leitura e da escrita e como a literatura infantil pode influenciar de maneira positiva neste processo. Assim, Bakhtin (1992) expressa sobre a literatura infantil abordando que por ser um instrumento motivador e desafiador, ela é capaz de transformar o indivíduo em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem , que sabe compreender o contexto em que vive e modificá-lo de acordo com a sua necessidade.
Esta pesquisa visa a enfocar toda a importância que a literatura infantil possui, ou seja, que ela é fundamental para a aquisição de conhecimentos, recreação, informação e interação necessários ao ato de ler. De acordo com as idéias acima, percebe-se a necessidade da aplicação coerente de atividades que despertem o prazer de ler, e estas devem estar presentes diariamente na vida das crianças, desde bebês. Conforme Silva (1992, p.57) “bons livros poderão ser presentes e grandes fontes de prazer e conhecimento. Descobrir estes sentimentos desde bebezinhos, poderá ser uma excelente conquista para toda a vida.”
Apesar da grande importância que a literatura exerce na vida da criança, seja no desenvolvimento emocional ou na capacidade de expressar melhor suas idéias, em geral, de acordo com Machado (2001), elas não gostam de ler e fazem-no por obrigação. Mas afinal, por que isso acontece? Talvez seja pela falta de exemplo dos pais ou dos professores, talvez não.
O que se percebe é que a literatura, bem como toda a cultura criadora e questionadora, não está sendo explorada como deve nas escolas e isto ocorre em grande parte, pela pouca informação dos professores. A formação acadêmica, infelizmente não dá ênfase à leitura e esta é uma situação contraditória, pois segundo comentário de Machado (2001, p.45) “não se contrata um instrutor de natação que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula brasileira estão repletas de pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar”.
Existem dois fatores que contribuem para que a criança desperte o gosto pela leitura: curiosidade e exemplo. Neste sentido, o livro deveria ter a importância de uma televisão dentro do lar. Os pais deveriam ler mais para os filhos e para si próprios. No entanto, de acordo com a UNESCO (2005) somente 14% da população tem o hábito de ler, portanto, pode-se afirmar que a sociedade brasileira não é leitora. Nesta perspectiva, cabe a escola desenvolver na criança o hábito de ler por prazer, não por obrigação.

Contextualizando Literatura Infantil

Os primeiros livros direcionados ao público infantil, surgiram no século XVIII. Autores como La Fontaine e Charles Perrault escreviam suas obras, enfocando principalmente os contos de fadas. De lá pra cá, a literatura infantil foi ocupando seu espaço e apresentando sua relevância. Com isto, muitos autores foram surgindo, como Hans Christian Andersen, os irmãos Grimm e Monteiro Lobato, imortalizados pela grandiosidade de suas obras. Nesta época, a literatura infantil era tida como mercadoria, principalmente para a sociedade aristocrática. Com o passar do tempo, a sociedade cresceu e modernizou-se por meio da industrialização, expandindo assim, a produção de livros.
A partir daí os laços entre a escola e literatura começam a se estreitar, pois para adquirir livros era preciso que as crianças dominassem a língua escrita e cabia a escola desenvolver esta capacidade. De acordo com Lajolo & Zilbermann, “a escola passa a habilitar as crianças para o consumo das obras impressas, servindo como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo”. (2002, p.25)
Assim, surge outro enfoque relevante para a literatura infantil, que se tratava na verdade de uma literatura produzida para adultos e aproveitada para a criança. Seu aspecto didático-pedagógico de grande importância baseava-se numa linha moralista, paternalista, centrada numa representação de poder. Era, portanto, uma literatura para estimular a obediência, segundo a igreja, o governo ou ao senhor. Uma literatura intencional, cujas histórias acabavam sempre premiando o bom e castigando o que é considerado mau. Segue à risca os preceitos religiosos e considera a criança um ser a se moldar de acordo com o desejo dos que a educam, podando-lhe aptidões e expectativas.
Até as duas primeiras décadas do século XX, as obras didáticas produzidas para a infância, apresentavam um caráter ético-didático, ou seja, o livro tinha a finalidade única de educar, apresentar modelos, moldar a criança de acordo com as expectativas dos adultos. A obra dificilmente tinha o objetivo de tornar a leitura como fonte de prazer, retratando a aventura pela aventura. Havia poucas histórias que falavam da vida de forma lúdica, ou que faziam pequenas viagens em torno do cotidiano, ou a afirmação da amizade centrada no companheirismo, no amigo da vizinhança, da escola, da vida.
Essa visão de mundo maniqueísta, calçada no interesse do sistema, passa a ser substituída por volta dos anos 70 e a literatura infantil passa por uma revalorização, contribuída em grande parte pelas obras de Monteiro Lobato, no que se refere ao Brasil. Ela então, se ramifica por todos os caminhos da atividade humana, valorizando a aventura, o cotidiano, a família, a escola, o esporte, as brincadeiras, as minorias raciais, penetrando até no campo da política e suas implicações.
Hoje a dimensão de literatura infantil é muito mais ampla e importante. Ela proporciona à criança um desenvolvimento emocional, social e cognitivo indiscutíveis. Segundo Abramovich (1997) quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância, como medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinarem infinitos assuntos.
É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica...É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH, 1997, p.17)
Neste sentido, quanto mais cedo a criança tiver contato com os livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade dela tornar-se um adulto leitor. Da mesma forma através da leitura a criança adquire uma postura crítico-reflexiva,extremamente relevante à sua formação cognitiva.
Quando a criança ouve ou lê uma história e é capaz de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela, realiza uma interação verbal, que neste caso, vem ao encontro das noções de linguagem de Bakhtin (1992). Para ele, o confrontamento de idéias, de pensamentos em relação aos textos, tem sempre um caráter coletivo, social.
O conhecimento é adquirido na interlocução, o qual evolui por meio do confronto, da contrariedade. Assim, a linguagem segundo Bakthin (1992) é constitutiva, isto é, o sujeito constrói o seu pensamento, a partir do pensamento do outro, portanto, uma linguagem dialógica.
A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar de um diálogo: interrogar, escutar, responder, concordar, etc. Neste diálogo, o homem participa todo e com toda a sua vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, com as suas ações. Ele se põe todo na palavra e esta palavra entra no tecido dialógico da existência humana, no simpósio universal. (BAKHTIN, 1992, p112)
E é partindo desta visão da interação social e do diálogo, que se pretende compreender a relevância da literatura infantil, que segundo afirma Coelho (2001, p.17), “é um fenômeno de linguagem resultante de uma experiência existencial, social e cultural.”
A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto. Segundo Coelho (2002) a leitura, no sentido de compreensão do mundo é condição básica do ser humano.
A compreensão e sentido daquilo que o cerca inicia-se quando bebê, nos primeiros contatos com o mundo. Os sons, os odores, o toque, o paladar, de acordo com Martins (1994) são os primeiros passos para aprender a ler.Ler, no entanto é uma atividade que implica não somente a decodificação de símbolos, ela envolve uma série de estratégias que permite o indivíduo compreender o que lê. Neste sentido, relata os PCN’s (2001, p.54.):
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequada para abordá-los de forma a atender a essa necessidade.
Assim, pode-se observar que a capacidade para aprender está ligada ao contexto pessoal do indivíduo. Desta forma, Lajolo (2002) afirma que cada leitor, entrelaça o significado pessoal de suas leituras de mundo, com os vários significados que ele encontrou ao longo da história de um livro, por exemplo.
O ato de ler então, não representa apenas a decodificação, já que esta não está imediatamente ligada a uma experiência, fantasia ou necessidade do indivíduo. De acordo com os PCN’s (2001) a decodificação é apenas uma, das várias etapas de desenvolvimento da leitura. A compreensão das idéias percebidas, a interpretação e a avaliação são as outras etapas que segundo Bamberguerd (2003, p.23) “fundem-se no ato da leitura”. Desta forma, trabalhar com a diversidade textual, segundo os PCN’s (2001), fazendo com que o indivíduo desenvolva significativamente as etapas de leitura é contribuir para a formação de leitores competentes.

A importância de ouvir histórias

Ouvir histórias é um acontecimento tão prazeroso que desperta o interesse das pessoas em todas as idades. Se os adultos adoram ouvir uma boa história, um “bom causo”, a criança é capaz de se interessar e gostar ainda mais por elas, já que sua capacidade de imaginar é mais intensa.
A narrativa faz parte da vida da criança desde quando bebê, através da voz amada, dos acalantos e das canções de ninar, que mais tarde vão dando lugar às cantigas de roda, a narrativas curtas sobre crianças, animais ou natureza. Aqui, crianças bem pequenas, já demonstram seu interesse pelas histórias, batendo palmas, sorrindo, sentindo medo ou imitando algum personagem. Neste sentido, é fundamental para a formação da criança que ela ouça muitas histórias desde a mais tenra idade.
O primeiro contato da criança com um texto é realizado oralmente, quando o pai, a mãe, os avós ou outra pessoa conta-lhe os mais diversos tipos de histórias. A preferida, nesta fase, é a história da sua vida. A criança adora ouvir como foi que ela nasceu, ou fatos que aconteceram com ela ou com pessoas da sua família. À medida que cresce, já é capaz de escolher a história que quer ouvir, ou a parte da história que mais lhe agrada. É nesta fase, que as histórias vão tornando-se aos poucos mais extensas, mais detalhadas.
A criança passa a interagir com as histórias, acrescenta detalhes, personagens ou lembra de fatos que passaram despercebidos pelo contador. Essas histórias reais são fundamentais para que a criança estabeleça a sua identidade, compreender melhor as relações familiares. Outro fato relevante é o vínculo afetivo que se estabelece entre o contador das histórias e a criança. Contar e ouvir uma história aconchegado a quem se ama é compartilhar uma experiência gostosa, na descoberta do mundo das histórias e dos livros.
Algum tempo depois, as crianças passam a se interessar por histórias inventadas e pelas histórias dos livros, como: contos de fadas ou contos maravilhosos, poemas, ficção, etc. Têm nesta perspectiva, a possibilidade de envolver o real e o imaginário que de acordo com Sandroni & Machado (1998, p.15) afirmam que “os livros aumentam muito o prazer de imaginar coisas. A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência da vida real”.
É importante contar histórias mesmo para as crianças que já sabem ler, pois segundo Abramovich (1997, p.23) “quando a criança sabe ler é diferente sua relação com as histórias, porém, continua sentindo enorme prazer em ouvi-las”. Quando as crianças maiores ouvem as histórias, aprimoram a sua capacidade de imaginação, já que ouvi-las pode estimular o pensar, o desenhar, o escrever, o criar, o recriar. Num mundo hoje tão cheio de tecnologias, onde as informações estão tão prontas, a criança que não tiver a oportunidade de suscitar seu imaginário, poderá no futuro, ser um indivíduo sem criticidade, pouco criativo, sem sensibilidade para compreender a sua própria realidade.
Portanto, garantir a riqueza da vivência narrativa desde os primeiros anos de vida da criança contribui para o desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de sua imaginação,que segundo Vigotsky (1992, p.128) caminham juntos: “a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista.”. Neste sentido, o autor enfoca que na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. Esse distanciamento da realidade através de uma história por exemplo, é essencial para uma penetração mais profunda na própria realidade: “afastamento do aspecto externo aparente da realidade dada imediatamente na percepção primária possibilita processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognição da realidade se complica e se enriquece. (VIGOTSKY, 1992, p.129) ”.
O contato da criança com o livro pode acontecer muito antes do que os adultos imaginam. Muitos pais acreditam que a criança que não sabe ler não se interessa por livros, portanto não precisa ter contato com eles. O que se percebe é bem ao contrário. Segundo Sandroni & Machado (2000, p.12) “a criança percebe desde muito cedo, que livro é uma coisa boa, que dá prazer”. As crianças bem pequenas interessam-se pelas cores, formas e figuras que os livros possuem e que mais tarde, darão significados a elas, identificando-as e nomeando-as.
É importante que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma que ela tenha um contato mais íntimo com o objeto do seu interesse.A partir daí, ela começa a gostar dos livros, percebe que eles fazem parte de um mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.16) “o amor pelos livros não é coisa que apareça de repente”. É preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer. Assim, pais e professores têm um papel fundamental nesta descoberta: serem estimuladores e incentivadores da leitura.

A literatura e os estágios psicológicos da criança

Durante o seu desenvolvimento, a criança passa por estágios psicológicos que precisam ser observados e respeitados no momento da escola de livros para ela. Essas etapas não dependem exclusivamente de sua idade, mas de acordo com Coelho (2002) do seu nível de amadurecimento psíquico, afetivo e intelectual e seu nível de conhecimento e domínio do mecanismo da leitura. Neste sentido, é necessária a adequação dos livros às diversas etapas pelas quais a criança normalmente passa. Existem cinco categorias que norteiam as fases do desenvolvimento psicológico da criança: o pré-leitor, o leitor iniciante, o leitor-em-processo, o leitor fluente e o leitor crítico.
O pré-leitor: categoria que abrange duas fases.Primeira infância (dos 15/17 meses aos 3 anos) Nesta fase a criança começa a reconhecer o mundo ao seu redor através do contato afetivo e do tato. Por este motivo ela sente necessidade de pegar ou tocar tudo o que estiver ao seu alcance. Outro momento marcante nesta fase é a aquisição da linguagem, onde a criança passa a nomear tudo a sua volta. A partir da percepção da criança com o meio em que vive, é possível estimulá-la oferecendo-lhe brinquedos, álbuns, chocalhos musicais, entre outros. Assim, ela poderá manuseá-los e nomeá-los e com a ajuda de um adulto poderá relacioná-los propiciando situações simples de leitura.
Segunda infância (a partir dos 2/3 anos) É o início da fase egocêntrica. Está mais adaptada ao meio físico e aumenta sua capacidade e interesse pela comunicação verbal. Como interessa-se também por atividades lúdicas, o “brincar”com o livro será importante e significativo para ela.
Nesta fase, os livros adequados, de acordo com Abramovich (1997) devem apresentar um contexto familiar, com predomínio absoluto da imagem que deve sugerir uma situação. Não se deve apresentar texto escrito, já que é através da nomeação das coisas que a criança estabelecerá uma relação entre a realidade e o mundo dos livros.
Livros que propõem humor, expectativa ou mistério são indicados para o pré-leitor.
A técnica da repetição ou reiteração de elementos são segundo Coelho (2002, p.34) “favoráveis para manter a atenção e o interesse desse difícil leitor a ser conquistado”. O leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos) Essa é a fase em que a criança começa a apropriar-se da decodificação dos símbolos gráficos, mas como ainda encontra-se no início do processo, o papel do adulto como “agente estimulador” é fundamental.
Os livros adequados nesta fase devem ter uma linguagem simples com começo, meio e fim. As imagens devem predominar sobre o texto. As personagens podem ser humanas, bichos, robôs, objetos, especificando sempre os traços de comportamento, como bom e mau, forte e fraco, feio e bonito. Histórias engraçadas, ou que o bem vença o mal atraem muito o leitor nesta fase. Indiferentemente de se utilizarem textos como contos de fadas ou do mundo cotidiano, de acordo com Coelho (ibid, p. 35) “eles devem estimular a imaginação, a inteligência, a afetividade, as emoções, o pensar, o querer, o sentir”.
O leitor-em-processo (a partir dos 8/9anos) A criança nesta fase já domina o mecanismo da leitura. Seu pensamento está mais desenvolvido, permitindo-lhe realizar operações mentais. Interessa-se pelo conhecimento de toda a natureza e pelos desafios que lhes são propostos. O leitor desta fase tem grande atração por textos em que haja humor e situações inesperadas ou satíricas. O realismo e o imaginário também agradam a este leitor. Os livros adequados a esta fase devem apresentar imagens e textos, estes, escritos em frases simples, de comunicação direta e objetiva. De acordo com Coelho (2002) deve conter início, meio e fim. O tema deve girar em torno de um conflito que deixará o texto mais emocionante e culminar com a solução do problema.
O leitor fluente (a partir dos 10/11 anos) O leitor fluente está em fase de consolidação dos mecanismos da leitura. Sua capacidade de concentração cresce e ele é capaz de compreender o mundo expresso no livro. Segundo Coelho (2002) é a partir dessa fase que a criança desenvolve o “pensamento hipotético dedutivo” e a capacidade de abstração. Este estágio, chamado de pré-adolescência, promove mudanças significativas no indivíduo. Há um sentimento de poder interior, de ver-se como um ser inteligente, reflexivo, capaz de resolver todos os seus problemas sozinhos. Aqui há uma espécie de retomada do egocentrismo infantil, pois assim como acontece com as crianças nesta fase, o pré-adolescente pode apresentar um certo desequilíbrio com o meio em que vive.
O leitor fluente é atraído por histórias que apresentem valores políticos e éticos, por heróis ou heroínas que lutam por um ideal. Identificam-se com textos que apresentam jovens em busca de espaço no meio em que vivem, seja no grupo, equipe, entre outros.É adequado oferecer a esse tipo de leitor histórias com linguagem mais elaborada. As imagens já não são indispensáveis, porém ainda são um elemento forte de atração. Interessam-se por mitos e lendas, policiais, romances e aventuras. Os gêneros narrativos que mais agradam são os contos, as crônicas e as novelas.
O leitor crítico (a partir dos 12/13 anos) Nesta fase é total o domínio da leitura e da linguagem escrita. Sua capacidade de reflexão aumenta, permitindo-lhe a intertextualização. Desenvolve gradativamente o pensamento reflexivo e a consciência crítica em relação ao mundo. Sentimentos como saber, fazer e poder são elementos que permeiam o adolescente. O convívio do leitor crítico com o texto literário, segundo Coelho (2002, p.40) “deve extrapolar a mera fruição de prazer ou emoção e deve provocá-lo para penetrar no mecanismo da leitura”.
O leitor crítico continua a interessar-se pelos tipos de leitura da fase anterior, porém, é necessário que ele se aproprie dos conceitos básicos da teoria literária. De acordo com Coelho (ibid, p.40) a literatura é considerada a arte da linguagem e como qualquer arte exige uma iniciação. Assim, há certos conhecimentos a respeito da literatura que não podem ser ignorados pelo leitor crítico.

Conclusão

Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante, que começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira. Existem diversos fatores que influenciam o interesse pela leitura. O primeiro e talvez mais importante é determinado pela “atmosfera literária” que, segundo Bamberguerd (2000, p.71) a criança encontra em casa. A criança que houve histórias desde cedo, que tem contato direto com livros e que seja estimulada, terá um desenvolvimento favorável ao seu vocabulário, bem como a prontidão para a leitura.
De acordo com Bamberguerd (2000) a criança que lê com maior desenvoltura se interessa pela leitura e aprende mais facilmente, neste sentido, a criança interessada em aprender se transforma num leitor capaz. Sendo assim, pode-se dizer que a capacidade de ler está intimamente ligada a motivação. Infelizmente são poucos os pais que se dedicam efetivamente em estimular esta capacidade nos seus filhos. Outro fator que contribui positivamente em relação à leitura é a influência do professor. Nesta perspectiva, cabe ao professor desempenhar um importante papel: o de ensinar a criança a ler e a gostar de ler.
Professores que oferecem pequenas doses diárias de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade, desenvolverão na criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida afora. Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça uma certa variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade cronológica da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.23) “o equilíbrio de um programa de leitura depende muito mais do bom senso e da habilidade do professor que de uma hipotética e inexistente classe homogênea”.
Assim, as condições necessárias ao desenvolvimento de hábitos positivos de leitura, incluem oportunidades para ler de todas as formas possíveis. Freqüentar livrarias, feiras de livros e bibliotecas são excelentes sugestões para tornar permanente o hábito de leitura.
Num mundo tão cheio de tecnologias em que se vive, onde todas as informações ou notícias, músicas, jogos, filmes, podem ser trocados por e-mails, cd’s e dvd’s o lugar do livro parece ter sido esquecido. Há muitos que pensem que o livro é coisa do passado, que na era da Internet, ele não tem muito sentido. Mas, quem conhece a importância da literatura na vida de uma pessoa, quem sabe o poder que tem uma história bem contada, quem sabe os benefícios que uma simples história pode proporcionar, com certeza haverá de dizer que não há tecnologia no mundo que substitua o prazer de tocar as páginas de um livro e encontrar nelas um mundo repleto de encantamento.
Se o professor acreditar que além de informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer, encontrará meios de mostrar isso à criança. E ela vai se interessar por ele, vai querer buscar no livro esta alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona. Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura.




Autora: ELINE FERNANDES DE CASTRO
Trabalho científico apresentado à Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA, como requisito parcial para a obtenção do Título de graduada em Licenciatura Específica em Português.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Infância e Atualidade: A Concepção de Infância na Prática Educativa



Imagem: Internet








Este trabalho discute a questão da concepção da infância na atualidade, a partir da perspectiva social e educacional, de modo a focalizar qual o conceito que ambas trazem sobre a infância. A orientação teórico-metodológica foi baseada em autores que discutem a concepção de infância historicamente e na atualidade, como Áries, Andrade, Paula, e também os referenciais curriculares nacionais de educação infantil que em suas diretrizes defende uma determinada maneira de compreender a infância. O trabalho analisa através da observação a prática pedagógica realizada em uma escola municipal. Conclui que, no âmbito educacional, apesar de estudos mais recentes sobre a infância como construção social e as crianças como produtoras também de conhecimento, a criança ainda é percebida com um "vir a ser", sendo a educação um ato de formação da criança para o futuro.




A questão problemática da pesquisa é acerca do conceito de infância na educação atual de modo, a saber, se esta tem sido influenciada pela sociedade em seu modo de "ver" a infância.
O interesse pelo tema surgiu por meio de leituras de autores que tratam dessa problematização onde se discute a concepção de infância na sociedade atual, e que por sua vez, me levou a refletir sobre a questão desta concepção no âmbito educacional, ou seja, tendo em vista que a escola faz parte do contexto social e desta adquire influências como a mesma pensa a criança; como um "vir a ser", sendo seu papel formá-la para o futuro, ou pensa nestas como um ser que está sendo no presente, ou seja, como produto ou produtora de culturas?
Sobre estas questões acredito que a pesquisa irá nos auxiliar a pensar sobre qual nosso modo de conceber a infância e como olhamos para a criança, pois acredito que com base nesse modo de pensar e olhar é que ensinamos. Portanto, meu intuito é levar a reflexão a partir dos aspectos teóricos e práticos apresentados.
A pesquisa se direciona a relacionar minha observação prática, realizada em uma escola municipal, com a pesquisa teórica que me direcionou ao tema. Desta forma, meu trabalho está estruturado em primeiramente trazer definições do que foi e é a infância no âmbito social, histórico, e saber como a sociedade atual a concebe, e como a escola, a educação pensa a infância, e, ainda, se suas práticas favorecem o desenvolvimento da criança e valoriza a infância.
Pensar em concepção de infância na atualidade nos remete a refletir sobre os diversos âmbitos que esta questão traz, mas me delimitarei a pensar nesta sobre o contexto social atual e no contexto educacional, tendo como base a concepção de infância que o Referencial Curricular Nacional para educação infantil traz em suas propostas.
Observamos que segundo Neto e Silva (2007) a palavra infância vem de En-fant que significa "aquele que não fala", isso podemos ver refletido sobre o processo de construção da infância na sociedade, onde observamos figura da criança como aquele que não tem capacidade de ser, estar e atuar por ser criança, ou seja, vista apenas como um ser moldado pelo adulto ou como um indivíduo sem valor, sem um espaço na sociedade, e isso decorre desde a sociedade medieval até tempos atrás, onde começa a mudar tais concepções e passa-se a ver a criança como um indivíduo pertencente ao meio social com sua cultura e seu modo de entender o mundo, pois segundo Paula (2005) antes "a criança inexistia ou ficava adstrita a escassos momentos". (p.1). Ou seja, não participava do meio, era isolada como um indivíduo que nada sabe.
 Áries (1979) ressalta que "na sociedade medieval a criança a partir do momento em que passava a agir sem solicitude de sua mãe, ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes". (p.156). Ou seja, a criança passava a ser um "adulto em miniatura", e a viver como tal.
Mas a concepção de infância vai sendo mudada conforme a sociedade passa a vê-la com um olhar mais centrado de que esta é um indivíduo que pertence à sociedade, que está inserido em sua cultura e dela aprende, tem "voz", ou seja, tem sua forma de vivê-la, e por esta é influenciada e a esta também influencia.
Isto porque se acredita que a concepção de infância está ligada à cultura que vivemos e a sociedade que nós adultos criamos para as crianças, e como um ser moldado pela cultura e pela sociedade estas vivem as influências de sua época.
Áries (1979) diz que "a 'aparição' da infância se dá a partir do século XVI e XVII na Europa, quando o mercantilismo, altera o sentimento e as relações frente à infância, modificado conforme a própria estrutura social". (p.14). Isto porque com novas viabilizações da economia e frente a novos desafios econômicos se pensava em como inserir a criança nesta mudança social.

Desta forma, observo que conforme há transformações na estrutura social começa a se mudar também o conceito de infância, e isso frente à organização familiar; porque não se compreendia de certa forma e não se pensava a infância como na atualidade, ou seja, não se pensava, e não se sabia o que representava ser criança; isso porque a criança não se diferenciava do adulto e não era representada significamente na família, era vista como somente ligada ao grupo como qualquer outro personagem do contexto. (Áries, 1979, p.14). A percepção que se tinha era de um "ser em miniatura" que tinha que aprender a viver juntamente com os demais.
Mas esses são alguns dos sentimentos de infância que Áries (1976)  traz, ele mostra que com o passar do tempo e em cada época se criava um sentimento, um modo de perceber a infância, e foi o que ocorreu ao fim da Idade Média, onde surgiu a percepção da criança como um ser inocente, divertido, é o sentimento de "paparicação", onde a criança era vista como fonte de distração dos adultos. E após contrário a este sentimento surge o sentimento de irritação que segundo Áries, não se suportava o sentimento de paixão pelas crianças, na qual as pessoas beijavam estas. (p.158)
Portanto, observo a cada época à busca para entender quem era a criança, em que lugar colocá-la em sociedade, ou seja, uma busca pela significação da infância, porque não se tinha claro para a sociedade o que era esta fase. Segundo Áries (1976) "o sentimento da infância corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem". (p.156). E isso não era visível a essas épocas ainda.
Contudo, voltando às épocas mais atuais observamos que o reconhecimento por essa começa a aparecer, e esse reconhecimento vem segundo Paula (2005):
Com o estabelecimento de uma nova ordem política, social e econômica, impulsionada por diversos fatores, dentre os quais o capitalismo industrial, o neoliberalismo e suas conseqüências (migrações, surgimento da família nuclear e burguesa, adstrição da criança à família e idéia de escola), ocorreram transformações que influenciaram a organização da estrutura familiar e, consequentemente a vida das crianças. (p.1)
Com novas viabilizações da estrutura social, econômica e familiar, começa a voltar se a pensar na criança como um sujeito despreparado para tal sociedade, e desta forma surge à necessidade de prepará-la para viver neste novo estabelecimento; surge então a questão de escolarizar as crianças prepará-la para o futuro, e esse é um olhar que persiste até dias atuais, pois surgiu com a questão da industrialização, porque não tinha sido necessário até esta época escolarizar as crianças, as escolas existiam para os maiores.
Isto mostra uma nova percepção da infância, e me faz pensar como houve a variação das concepções no decorrer dos anos, e isto é perceptível a meu ver, ao observar as concepções que relacionei anteriormente. Segundo os Referenciais curriculares (1998) "a concepção de criança é uma noção historicamente construída e consequentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época". (p.21).
Sobre estas variações me debruço a observar à concepção de infância nos dias atuais onde é possível ver o reconhecimento da criança, da infância como "um vir a ser" no futuro, é um olhar que por mais que se direciona a pensar nas crianças como sujeitos ativos e produtores de culturas ainda se almejam o preparo destas para o futuro desconsiderando-se o presente. Daí surge as problematizações sobre questões da concepção da infância na atualidade: a criança já é no presente, ou será somente no futuro? Deve ser considerada no presente ou deve ser vista somente como um ser que será só no futuro desconsiderando o que ela é, sua vida, seu olhar e sua formação no presente?
Andrade (2007) que discute a concepção do "ser criança" na sociedade atual trazendo, dados de uma pesquisa feita por ela em seus trabalhos que trouxe indicações da criança estar sendo tida como um "ainda não", algo que se tornará sujeito um dia (quando adulto), pois esta tem sido vista como uma extensão dos pais, ou seja, não tem direitos próprios. (p.2)
A autora complementa dizendo que as crianças têm sido consideradas como "menores" ou "ainda não cidadãos"; ressalta que, "a infância como realidade social, tem frequentemente permanecida afastada e excluída das reflexões sobre problemas sociais e qualidade de vida", pois "a moratória infantil (o ainda não) faz com que a criança esteja sempre em lugar de objeto em um processo macrossocial encaminhado a uma futura sociedade ideal". (p.3) Ou seja, deixar de ser criança no presente porque tem que ser algo no futuro, e sobre isto vemos duas realidades infantis uma em que a criança fica atribuída a ter muitas formações escolares (cursos) para prepará-la para o futuro na sociedade; ou muitas atribuições (afazeres) para adquirir o perfil social que é "ser ativo" atribuído de muitas tarefas o que acaba tirando o prazer da infância, pois estas crianças passam a não ter tempo para o brincar. 
Outra realidade é a que a criança acaba tendo que trabalhar por sua família não ter condições financeiras de se manter. No Brasil estes casos são visíveis, mas nunca colocado como pauta pela sociedade só por instituições que lutam pela questão do trabalho infantil e sobre outros aspectos da infância, mas este é outro âmbito de estudo na qual não vou me ater, pois não será o foco nesta pesquisa, apesar de ser algo relevante na questão da concepção de infância na sociedade atual. 
Neste estudo, venho questionar como a escola pensa a infância, e como ela lida com as questões de trabalhar com a valorização, com a questão de a criança ser preparada para viver na sociedade, mas de uma forma que não tire o prazer e seu momento presente de ser criança. Será que a educação tem sido pensada no sentido de respeitar e valorizar a criança no presente?
Com esta perspectiva de entender como a escola a tem concebido, analisei a questão da infância que os Referenciais curriculares nos trazem. E a partir desta análise observei que o objetivo é a formação das crianças para o amanhã e isto porque a idéia de escolarização como vemos anteriormente surgiu nesta perspectiva de fazer a criança se preparar para "ser" no futuro. Segundo Guimarães (2003), "a educação no contexto da modernidade tem como perspectiva formar os adultos de amanhã, os artífices da futura sociedade". (p.3). Será que a educação tem sido pensada só nesta perspectiva, será que não se pensa na infância em si na questão de contemplar as capacidades, as percepções das crianças, os olhares destas para as questões da vida.

Este mesmo autor ao analisar a questão da educação infantil nos Referenciais curriculares diz que "a educação infantil é situada na LDB como primeira etapa da educação básica, e tem como finalidade propiciar o pleno desenvolvimento da criança". (p.27) Observo então, que o objetivo não é só formar para vir a ser e sim fazer com que a criança se desenvolva no presente. Se desenvolver não seria ter voz ser considerada alguém ativo, com sua produção e seu modo de pensar?
Mas nem sempre foi assim; A educação tradicional muitas vezes impediu isto e fez com que as crianças fossem tidas apenas como reprodutoras e não criadoras. Formavam-se indivíduos que não conseguiam agir por si só porque foram impedidos por uma educação que não considerava seu saber. E isto porque a educação era voltada a mecanizar os saberes das crianças, considerando-as como alguém que não sabe ou que não pode por ser criança. Não quero dizer assim que desta forma a criança seja autônoma não precise das intervenções dos adultos, mas que se ouçam as crianças e as veja como alguém que "é", não como alguém impossibilitado de ser no presente, mas deve propiciar as crianças formas de "ser" e "viver" a infância.
Hoje observamos não só na educação infantil, mas nas séries seguintes a questão do considerar o conhecimento que a criança já tem, ou seja, conhecimentos do âmbito social de seu contexto, pois ela como participante da sociedade em que vive aprende e é influenciada por esta em seus conhecimentos e vivências; portanto, tem conhecimento, não é alguém vazio até porque a criança aprende com o mundo dos adultos e ressignifica a realidade, o aprendizado que viveu a "seu modo" para melhor entendê-los.
Segundo os RCNs(1998):
As crianças possuem uma natureza singular, que as caracterizam como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio, e isto porque, através das interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. (p.21)
A criança tem que ter a oportunidade de "ser" no presente para "ser" no futuro. E um dos objetivos que os referenciais curriculares (1998) colocam é da criança desenvolver sua independência, a confiança em suas capacidades (p.63). Isto é considerar a criança como um ser atuante, como alguém que pode e não como alguém que por ser criança não tem voz.
Desta forma, analisando as concepções dos referenciais vemos que este apresenta aspectos de valorização à infância na qual a criança é compreendida como alguém atuante, que possui uma cultura, um jeito de ser próprio. Com isto, a prática educativa deve buscar compreender um ensino que alcance esses objetivos, onde valorize esses aspectos da infância que os Referenciais curriculares trazem, mas isso será possível a partir de uma nova perspectiva de reconhecer a criança como produtora e não como somente produto a ser formada.
Com isso, tendo em vista essa compreensão, voltei minha pesquisa a observar a prática de uma escola municipal, a qual me trouxe uma verificação, um exemplo, de como esta trabalha a questão da infância e qual o modo que a escola a concebe. Desta forma, verifiquei o modo como é estabelecida as atividades no ambiente escolar e os projetos, de forma a averiguar se pensam na formação da criança somente para o futuro ou se trabalham com ela o presente, ou seja, como um "ser" que "é" no presente.
Tal escola situa-se em um bairro periférico de classe social baixa. São moradores oriundos de cidades nordestinas e que vieram para São Paulo tentar melhores condições de vida. A escola é de pequeno porte, composta por quatro salas que atende a três períodos: manhã, intermediário e tarde. Possui 10 professoras, uma coordenadora (diretora), e uma assistente de direção. Possui em seu ambiente um espaço (pátio) não muito grande, mas que atende ao número de crianças, há ainda um parque ao ar livre e brinquedos em condições favoráveis ao uso.
Minha pesquisa se voltou a fazer observações práticas na rotina da escola no seu dia-a-dia, sendo que estas foram desenvolvidas durante três meses, tendo como foco observar os trabalhos que são desenvolvidos e, a saber, qual a concepção de infância que esta traz consigo. Vale ressaltar que esta pesquisa informará a concepção de uma instituição não tenho o intuito de generalizar a todas, pois cada uma possui seu olhar para a criança e para a infância.
Nesta escola, pude observar na prática, que a mesma tenta por diversas vias trabalhar de modo a valorizar aspectos da infância: como as brincadeiras infantis; trabalhando questões da cultura; da imagem de si, e um outro aspecto é a autonomia da criança, a questão do expressar-se, de saber colocar suas opiniões, o que é interessante pelo fato de trazer à criança oportunidade de escolher o que gosta o que quer e o que acha ser bom; algo que traz importantes momentos onde a criança mostra seu olhar sobre as coisas e sobre o mundo a sua volta de modo a trazer a seu mundo infantil.
Outro dado relevante na observação da prática desta escola foi a questão do conselho infantil que me levou refletir e ater o foco da pesquisa sobre esta por ser uma das formas que a escola trouxe de fazer com que a criança tenha seu espaço e que ela "seja", e atue conforme seu pensar, ou seja, a escola pode sim formar a criança  na sociedade, mas deve considerá-la como um ser que é e está vivendo no presente. O trabalho desta escola nos mostra formas da criança relacionar-se com os adultos mostrando suas opiniões e ressignificando o que tem a sua volta, e produzindo cultura. Observei importantes momentos de atuação destas crianças, que são as vozes das demais frente à direção escolar e frente aos demais participantes do ambiente educativo.

O conselho infantil começou a ser organizado em abril com o processo de eleição, onde as crianças que preenchiam o perfil disposto se candidatavam; perfil este elaborado pelos professores e alunos durante discussões sobre o que seria o perfil ideal para um representante infantil do conselho. E com isto o perfil disposto para a criança se candidatar era: saber falar, não ter vergonha de se expressar, obedecer a professora e a direção, e ter propostas de melhoria das atividades e do ambiente escolar.
Os integrantes são escolhidos pelas próprias crianças e cada classe realiza a sua eleição e fazem a escolha de três ou quatro amigos que as representarão no conselho infantil, e também escolhem os suplentes para o caso de ausência destes. A escolha é realizada em cada sala, onde a professora explica e discute com os alunos, a importância da realização das escolhas destes amigos e da própria organização do conselho, e explica que elas deverão escolher conforme as propostas dos candidatos e verificar as mais viáveis e as que condizem com o que eles querem e acreditam. É um trabalho que é direcionado a fazer com que as crianças tenham autonomia nas escolhas dos projetos e nas atividades que serão desenvolvidas em cada mês.
A escolha e a votação é algo que faz a criança se sentir contribuinte com trabalho desenvolvido na escola e se sinta autônoma em tomar decisões. Depois desta escolha dos integrantes, os eleitos passam a ser a "voz" de sua sala frente à direção e as demais crianças que foram eleitas das outras salas.
Um exemplo do trabalho desenvolvido foi o mês da criança onde estas escolheram que atividades seriam desenvolvidas no decorrer do mês e isso foi feito na reunião do conselho infantil onde as crianças levantaram sugestões, aprendendo a respeitar as opiniões dos amigos e decidindo o melhor a ser desenvolvido e de acordo com que elas acham melhor e "legal".
Nas observações que realizei no decorrer deste período pude verificar que as reuniões do conselho infantil são realizadas em mensalmente onde se decide temas específicos, como a festa junina, aniversariantes, festa de natal, etc. Essas reuniões são momentos na qual as crianças decidem as atividades que gostariam que fossem realizadas na escola e também optam por melhorias no ambiente escolar; a direção faz um levantamento das opções para melhorias e envia ao departamento, ou seja, há uma preocupação em valorizar o que as crianças opinam como também a participação destas.
Deste modo, para o levantamento destas decisões e também destas opiniões as crianças se reúnem entre si juntamente com a direção que se torna mediadora da reunião e ouvinte das opiniões e escolhas feitas pelas crianças. Esta atividade mostra um espaço em que a criança deixa de ser "EN-FANT" sem voz para ser alguém com voz, que é ouvida e onde sua opinião é valorizada, ou seja, não é vista mais como um ser que não sabe e que por ser criança não pode trazer contribuição ao espaço escolar; é algo que faz a criança "ser", atuar, desenvolver e ressignificar o que a escola propõe e o que os professores a ensina a sua cultura infantil, sendo assim ela produz uma cultura e uma voz própria.
Após esta reunião é feita a integração entre os representantes de todas as salas e após um consenso entre as escolhas; estes levam a pauta do que foi levantado para a sala e discutem com as demais crianças e a professora, que acaba mediando a discussão em sala, mas que dá "a voz" para que as crianças conversem entre si e escolham, ou seja, não interfere, só faz a mediação nas escolhas, e através deste momento em sala as crianças optam pelas atividades que acharem melhor, depois que cada sala fica ciente da pauta e dos levantamentos do conselho e fazem suas escolhas, o conselho se reúne novamente e faz o levantamento das respostas e reúne as que ganharam.
Isto proporciona que as crianças desenvolvam autonomia de realizar suas escolhas e participam no que se refere às atividades de seu ambiente escolar e faz também, com que nestas interações, nestas trocas de opiniões, a criança construa sua identidade, sua maneira de ser, isto porque segundo Guimarães (2003) "a identidade pressupõe um processo de interação entre individuo e sociedade, capaz de fornecer as condições para que uma nova situação diferencial se estabeleça". (p.30) Ou seja, essa troca, essa socialização de idéias entre as crianças favorece novos aprendizados e novas construções em sua identidade fazendo as ter "voz". Segundo Paula (2005) diz "as crianças são sujeitos atuantes e por isso, criticas e construtoras de seu mundo". (p.1)
As crianças por meio do conselho atuam de forma democrática onde acabam aprendendo a se expressar, a ouvir os outros amigos e a respeitar as opiniões, e também a estar por dentro e a serem autoras das atividades e dos projetos que são escolhidos por elas. É algo muito interessante, pois se vê e se reserva um espaço onde a criança deixa de ser EN-FANT "aquele que não fala" para ser atuante e dessa forma exercer uma autonomia de se expressar e de interpretar as atividades no ambiente escolar conforme suas culturas infantis, pois a criança elabora a partir do que vivencia em seu contexto, e acaba recriando a sua vivência de mundo, e interpretando ao seu modo infantil, a sua cultura e a sua forma de ver e perceber o mundo.
Favorecer um espaço em que a criança possa discutir, possa optar, possa expressar seu modo de olhar o mundo é algo muito rico e incide outro olhar da escola, e dos envolvidos no ambiente escolar, pois deste modo a escola passa a ver as crianças como "alguém que é", e não que será; mas isto incide também outro modo de pensar em que favoreça mais a participação das crianças, incide um olhar educativo que pensa não só no futuro das crianças, mas que as reconheça no hoje, no presente, vendo-as como alguém que aprende com o presente e está a ser formar a partir deste.
O conselho infantil mostra-nos outro olhar a infância e isto é algo que nem todos os envolvidos no âmbito da educação têm, ou seja, nem todos percebem a infância como algo presente, a criança como alguém que tem suas percepções, suas escolhas e sua cultura. Muitas das vezes o que permanece no ambiente escolar é um olhar a infância como algo que tem que ser formado e que nada sabe que não sabe se expressar, e acaba não ouvindo a criança, e vendo esta com o papel de "executora" do que os adultos que tudo sabe dizem; o que acabam trazendo uma infância sem valor e sem a percepção do que a própria criança acredita ser; é uma desvalorização ao olhar da criança, a sua cultura. Algo que influencia a própria aprendizagem escolar, pois a criança sendo percebida e tratada desta forma acaba limitada, o que influencia muito seu convívio em sociedade, pois a criança não consegue "ser" por ter sido tratada como alguém que "não é" e que um dia "será".

Segundo Paula (2005);
Considerar a infância como uma categoria social ou estrutural, não significa afirmar que as crianças estejam descoladas da sociedade, que tenham total autonomia no processo de socialização ou que suas produções ocorram sem interlocução com o mundo social dos adultos. Mas é necessário compreender que elas atribuem outras significações e sentidos sobre as coisas à sua volta e, sobretudo ao que fazem. As crianças transcendem as regras instituídas pelos adultos e instituem outras de acordo com as relações que estabelecem com seus pares, pois se sabe que os laços de amizades entre as crianças e, consequentemente, as teias de interesses afins encorajam as "invenções", possibilitando a expansão de acordos, de criações, de expressões, enfim, de produções culturais. (p.2)
As crianças nesta perspectiva possuem culturas que são construídas a partir das ressignificações que fazem das ações dos adultos tornando assim sujeitos que recriam o seu modo e a sua forma de entender e compreender aspectos do mundo, sujeitos construtores de uma cultura própria. É o que os RCNs (1998) traz em sua concepção:
 As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. E isto através das interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem as relações contraditórias que presenciam, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. (p.21)
Ou seja, considera-se assim a criança com uma característica própria em que ela é criadora e produz o que é significativo a seu ver; deixando assim de considerá-la como ser que nada sabe e nada produz ser passivo e reprodutor do que os adultos estabelecem que faça. É algo que passa a trazer uma nova concepção de infância, pois se acredita assim que a escola, a educação será contribuinte que a criança se desenvolva sendo atuante, criativa, que seja um individuo participante de seu processo de aprendizagem e não um indivíduo passivo que só recebe, pois olha-se as criança como sujeitos que nada sabem, incapazes, e na verdade se surpreendem quando a criança traz respostas, traz significados que nós adultos não compreendemos e até questionamos como ela sabe? Mas na verdade a criança aprende com cada experiência que vive no mundo e com os adultos que lhe são referências, mas trazem ao seu modo e adquire um novo olhar. Portanto a escola, a educação deve pensar nesta perspectiva.
Muitas vezes nós professores passamos atividades e pensamos, "mas são crianças não saberão lidar com tais propostas", e na verdade elas nos surpreendem, pois demonstram saber mais do que acreditávamos que fariam.
A prática desta escola, este projeto com o conselho infantil deixou-me perceptível a confiança, a crença em que as crianças têm a contribuir e isso é algo muito valorativo à educação, mas que implica mudanças no modo de pensar dos envolvidos, como já foi dito, porque se tem com isto uma nova perspectiva do trabalho escolar, ou seja, não só de formar, mas também de acreditar que a criança "é" no presente o que contribuirá a ela a ser no futuro. Desta forma, me leva a pensar em uma prática que vise uma abertura de espaço para a criança atuar, não ser alguém passivo, mas ser um autor de suas experiências e significações.
Vejo um diferencial nesta escola pesquisada, pois são poucas que pensam na criança como um ser que pode opinar que pode participar, que pode se expressar e que pode ter seu querer, sua escolha; é raro porque é algo é difícil entender a infância nesta perspectiva, pois mudam alguns conceitos que a escola carrega consigo, porque se acredita que deste modo o adulto acaba perdendo a autoridade, mas não é algo que tende a tirar autoridade até porque mesmo a criança tem que ter uma referência, mas nada disso influi sobre esta questão e sim acaba gerando uma aproximação maior entre a criança e o adulto fazendo os ver com percepções diferentes.
A partir do momento em que a escola passa a proporcionar um trabalho assim onde a criança tem seu espaço, participa das atividades escolares fazendo escolhas, ela passa a proporcionar que esta se torne criadora de uma cultura própria. Nesta perspectiva, a escola passa a ressignificar seu trabalho, e isto ao estabelecer que este tenha a opinião delas, e a visão de mundo que elas têm em sua "interpretação infantil".
É um trabalho que facilita também a integração entre os adultos e as crianças, possibilitando aos adultos conhecerem e contextualizar-se ao universo infantil, como forma destes saberem lidar com as crianças no âmbito escolar. A educação infantil não é pensada muitas das vezes desta forma, pois o que se vê é a criança sem nenhum conhecimento, sendo considerada "vazia", sem formas de "ser", ou seja, um ser incapaz que deve a educação ser e fazer tudo por elas.
Durante a pesquisa de observação conversei com algumas crianças de seis anos que integram o conselho infantil, e nesta conversa me disseram gostar de fazer parte do mesmo, mas disseram se sentir por vezes com "vergonha" por ter que dar opinião e falar; isso me fez refletir que sendo assim motivados a se expressarem, a opinar, aos poucos eles acabam se manifestando de forma natural, sem mais se sentirem "temorizados" em expressar suas opiniões.
Certa vez acompanhando a fala de algumas crianças integrantes do conselho frente à sala, em um momento de socialização da pauta da reunião do conselho infantil, uma das integrantes chamou-me a atenção em sua forma de expressar, muito "esperta" repetia como que de 'postura adulta" as sugestões, opiniões dadas em reunião e explicava como deviam ser feitas as escolhas das opções. Foi um momento marcante, pois nos trouxe a reflexão de como a criança traz para si as formas e as ações do mundo adulto e de como esta referência é importante para elas, pois elas acabam produzindo uma cultura própria a partir dessas aprendizagens.
Este é um trabalho que, como diz Jobim e Souza (1994) et al. Andrade (2007), "faz-se uma ruptura com a representação desqualificadora de que a criança é alguém incompleto, alguém que constitui em um vir a ser no futuro". Pois segundo estes autores ressaltam "a criança não se constitui no amanhã; ela é hoje, no seu presente, um ser que participa da construção da história e da cultura de seu tempo". (p.4). 
Desta forma, como se pode pensar na criança em um ser que será só no futuro, desconsiderando sua atuação no presente fazendo assim viver e a ser um sujeito sem "voz", alguém como uma "tábula rasa", vazio, sem nada a contribuir agora, só futuramente quando adulto; a educação como descrevi já teve e ainda tem visões como estas. A criança tem sim a contribuir nos fazer entender seu universo e a nos mostrar qual a melhor forma que ela poderia e pode aprender o que ela pensa etc., e a melhor forma de contribuirmos é abrindo um espaço em que ela possa ser estar e atuar, ou seja, um espaço em que possa ser criança, em que possa ter uma infância com "voz".
Contudo, acredito que o modo como a sociedade vê a infância influência sobre a forma da escola ver a mesma, mas pensar em como ter um olhar diferenciado, em não só pensar na criança no amanhã, mas sim na sua formação no presente é algo que a educação tem que estar refletindo, a escola tem que pensar em formas de alcançar estes aspectos no que diz ao desenvolvimento das crianças.
No entanto, esta questão nos traz várias reflexões contínuas sobre o modo como a infância tem sido concebida no espaço escolar, mas acreditamos que esta pesquisa é só uma introdução, uma reflexão, uma "provocação" a nós educadores a pensarmos na infância na atualidade de forma diferente, acreditando nas crianças como sujeitos capazes, atuantes, com "voz". Desta forma, fica em aberta a questão para novas curiosidades que darão continuidade e abrirão janelas para  e contínuas reflexões.





Bibliografia consultada


ANDRADE, Ângela Nobre de. A criança na sociedade contemporânea: do "ainda não" ao cidadão em exercício. Psicologia Reflexão Critica vol n.1 Porto Alegre  1998. Disponível em: www.scielo.br
ARIÈS, Philippe. A História Social da Infância e da Família. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. p. 14-156.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de educação fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF. 1998. p.21-63.
GUIMARÃES, José Geraldo M. Referencial curricular Nacional para a Educação Infantil: alguns comentários. In: _________________Pedagogia Cidadã: cadernos de educação infantil. São Paulo: UNESP, Pró-reitoria de graduação, 2003. p.27.
NETO, Elydio dos Santos. SILVA, Marta Regina Paulo da.  Quebrando as armadilhas da adultez: o papel da infância na formação das educadoras e educadores. UMESP:2007. p.1
PAULA, Elaine de. Crianças e Infâncias: Universos a Desvendar. Programa de Mestrado em Educação da UFSC. I semestre de 2005. p.1-3. Disponível em: www.scielo.br






quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Reflexões: A criança, o brinquedo, a educação


Imagem: “Meninos brincando de soldados”, quadro de Jean-Baptiste Debret


O primeiro brinquedo utilizado pela criança é seu próprio corpo, que começa a ser explorado nos primeiros meses de vida; em seguida ela passa objetos do meio que produzem estimulações auditivas ou cinestésicas. A partir daí o brinquedo estará sempre na vida da criança, do adolescente e mesmo do adulto.
O mundo do brinquedo é um mundo composto, que representa o apego, à imitação, a representação e não aparece simplesmente como uma exigência indevida, mas faz parte da vontade de crescer e se desenvolver, ao brincar com bonecas ou utensílios domésticos em miniatura, uma criança exercita a manipulação dos objetos, compondo-os e recompondo-os, designando-lhes um espaço e uma função, dramatizando suas próprias relações o eventualmente seus conflitos, gritos com as bonecas, usando as mesmas palavras da mãe, para descarregar sentimentos de culpa; acaricia e afaga-as para exprimir suas necessidades de afeto, pode escolher uma delas para amar ou odiar de modo especial, caso a boneca lembre o irmãozinho amado, ou do qual tem ciúme.
Brincar com a criança
Os brinquedos terão sentido profundo se vierem representados pelo brincar. Por isso a criança não cansa de pedir aos adultos que brinquem com elas, estes, quando brincam com as crianças, tem a vantagem de dispor de uma experiência mais vasta mais rica, podendo ir mais longe com a imaginação, aumentando com isso seu coeficiente, não só de informações intelectuais, mais de nível linguístico, por exemplo, quando brinca de construção o adulto sabe calcular melhor as proporções e equilíbrio.
Possui um repertório mais rico do ponto de vista linguístico, e por isso ganha em organização, direção e abre novos horizontes.
Considerando a realidade em que vive a criança  a intenção do adulto com ela, não se pode esquecer que o brinquedo torna-se hoje, um objeto de consumo numa sociedade que propõe qualquer objeto para ser consumido como brinquedo.
Absorvida pelo brinquedo (roupagem), a criança não joga mais, não explora mais, não cria nem representa concretamente seu pensamento, valores, mas torna-se objeto do verdadeiro objeto.
É fundamental compreender que o conteúdo do brinquedo não determina a brincadeira da criança.
Ao brincar com bonecas ou utensílios domésticos em miniatura, uma criança exercita a manipulação dos objetos, compondo-os e recompondo-os, designando-lhes um espaço e uma função, dramatizando suas próprias relações e eventualmente conflitos. Grita com as bonecas, usando as mesmas palavras da mãe, para descarregar sentimentos de culpa; acaricia e afaga-as para exprimir suas necessidades de afeto. Pode escolher uma delas para amar ou odiar de modo especial, caso a boneca lembre o irmãozinho amado, ou do qual tem ciúme. Faz do brinquedo a representação, constituindo uma autentica atividade do pensamento.
“Demorou muito tempo até que se desse conta que as crianças não são homens ou mulheres em dimensões reduzidas – para não falar do tempo que levou até que essa consciência se impusesse também em relação às Walter Benjamim, em A criança, o brinquedo e a educação, ultrapassa os limites técnicos do brinquedo, dando-lhe um significado, atingindo uma concepção filosófica e psicológica profunda. Para ele jamais se chegaria à realidade ou ao conceito do brinquedo se  tentasse explicá-lo unicamente pelo espírito da criança ou simplesmente pela concepção do adulto. Os brinquedos atuais variam entre brados de guerra, morte, combates, prazer, consumo utilizados pelas crianças, passando pelos jogos eletrônicos utilizados pelos adolescentes e atingindo os brinquedos eróticos e jogos nas estrelas utilizados pelos adultos.



Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação, 3ª ed., trad. Marcus Vinicius Mazzari, São Paulo: Summus Editorial, 19